quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Os quadrinhos na História

Neste post eu apresento os links para uma série de programas do Canal The History Channel Espanhol dedicados especialmente à História dos quadrinhos. O documentário é bastante antigo e tem uma narrativa lenta. Mas é um documentário interessante para quem começa a estudar sobre quadrinhos. Vale conferir:

La historia del comic - Cap.1 de 1900 a 1910 - PARTE1




La historia del comic - Cap.1 de 1900 a 1910 - PARTE2




La historia del comic - Cap.1 de 1900 a 1910 - PARTE3



La historia del comic - Cap.4 de 1940 a 1950 - PARTE1



La historia del comic - Cap.4 de 1940 a 1950 - PARTE2



La historia del comic - Cap.4 de 1940 a 1950 - PARTE3 final

Quadrinhos na África III

Publico abaixo uma história em quadrinhos feita pelo artista Patrick Essono - mais conhecido como Pahé - do Gabão (região central da África). Pahé viveu por um tempo na França e conta sua história no livro La vie de Pahé (A vida de Pahé). Confira um trecho:

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pesquisas sobre Quadrinhos ganham espaço nas Universidades

Studies in Comics se junta a uma lista de revistas acadêmicas dedicadas às histórias em quadrinhos, que apontam para a consolidação do estudo deste meio de comunicação nas universidades. Não faz muito tempo que tivemos o lançamento de outra publicação de peso: European Comic Art.

O primeiro número de Studies in Comics chega em 2010 e vem respaldada por nomes como Thomas Inge, Chris Murray, Roger Sabin ou Mel Gibson. Algo se move na Inglaterra. Segundo vários professores universitários, geralmente dentro dos departamentos de Teoria Cultural e Estudos Culturais, o estudo acadêmico dos quadrinhos e da sua contribuição ao debate sobre cultura e sociedade é mais que uma moda passageira.

Podemos acrescentar a esta lista outras publicações como: Journal of Popular Culture que vem publicando artigos sobre quadrinhos nos últimos 40 anos ou ainda a Revista Latinoamericana de Estudios sobre la Historieta que desde 2001 vem contribuindo para a divulgação e reflexão sobre a produção dos quadrinhos na América Latina.

Dica para quem vai a Buenos Aires

Para quem é fã de quadrinhos. Ou mesmo para quem apenas curte as maravilhosas histórias da personagem Mafalda, criada pelo artista argentino Quino, vai aqui uma dicas se você for a Buenos Aires, não deixe de visitar dois pontos da capital que homenageiam aquela que é a personalidade argentina mais conhecida no mundo (ao lado de Maradona).


Estações de metro em Buenos Aires contam, desde o final de 2008, com imensos painéis de cerâmica com desenhos da personagem. O próprio Quino esteve presente à inauguração e comentou: “Quando me ofereceram participar, me pareceu uma ideia muito linda. É uma honra para mim ser parte de um programa cultural tão interessante. Estou entusiasmado já que é a primeira vez que minha obra se vê impressa nesta dimensão com esta técnica”. A empresa que administra o metrô argentino informa que cerca de 37 mil passageiros circulam por dia nestas estações.

Outro ponto imperdível é a estátua da Mafalda que está instalada em frente ao prédio onde o artista Quino viveu, e que foi cenário de diversas situações vividas pela menina. Na estátua, Mafalda aparece com um vestido verde sentada em um banco de praça na esquina das ruas Chile e Defensa.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Comic Book Resources elege a lista dos 100 melhores quadrinhos de todos os tempos - e se dá mal

É síndrome de final de ano: promessa de fazer dieta, vestir roupa branca, colocar cédula de dólar na carteira e fazer lista dos melhores e piores... Mas, tudo bem. Estas listas apesar de nunca serem unânimes, às vezes ajudam o público a se orientar melhor no universo infindável de opções disponíveis nas livrarias (no caso das listas de melhores livros).

O problema é quando a responsabilidade por formular estas listas fica unicamente nas mãos dos próprios leitores (sem, pelo menos uma pré-elaboração dos especialistas). Foi o que fez a Comic Book Resources (uma das mais importantes referências mundiais no universo dos quadrinhos). No último domingo o site lançou uma lista das cem melhores histórias de todos os tempos, escolhidas pelo público. Perigoso, não? Mas eles aceitaram correr o risco... E se deram mal.

Imagine, por exemplo, fazer uma lista dos melhores filmes de todos os tempos e não inserir Cidadão Kane (de Orson Welles)? Ou construir uma lista dos melhores romances universais e não inserir Don Quixote (de Cervantes)? Ou eleger os maiores atores brasileiros de todos os tempos e não listar Paulo Autran e Fernanda Montenegro? Um heresia, não?

Pois - acredite - a lista da Comic Book não traz (entre outras ausências) Um Contrato com Deus e nenhuma das demais obras do mestre Will Eisner. Para quem não conhece, o livro Um Contrato com Deus é considerado a obra que deu início ao conceito de Romance Gráfico e elevou os quadrinhos para o patamar de Arte (Nona Arte).

Por ser uma lista eleita pelo público (provavelmente todo ele americano), a lista da Comic Book Resources não traz nenhum dos maiores nomes dos quadrinhos feito na Europa ou produzido em qualquer outro país (fora os Estados Unidos), do passado ou do presente, como: Jacques Tardi, Moebius, Johann Sfar, Osamu Tezuka, Hugo Pratt, Miguelanxo Prado - apenas para citar alguns poucos...

Os editores da Comic Book deveriam ter tido mais cuidado ao eleger os critérios desta votação para não passarem por este constrangimento. Confira a lista... Entre no site e deixe lá o seu protesto... Quem sabe os editores pensem duas vezes antes de voltar a fazer uma listagem assim.

sábado, 26 de dezembro de 2009

1968 – O ano que ainda não terminou


"É proibido proibir"
"A política passa-se nas ruas"
"A revolução deve ser feitas nos homens, antes de ser feita nas coisas"
"Professores, sois tão velhos quanto a vossa cultura, o vosso modernismo nada mais é que a modernização da polícia, a cultura está em migalhas"
"O sonho é realidade"
"Abaixo o Estado"
"Viva o efêmero"

Você já deve ter ouvido alguma vez na vida, pelo menos uma destas frases. E o que elas têm de comum? Elas foram criadas durante o movimento de Maio de 68, em Paris.

Toda a transformação que outros países vinham vivendo em uma década implantada em apenas 30 dias. Era “apenas” isso que os jovens franceses que correram para as barricadas nas ruas esperavam conseguir naqueles conturbados dias.

Aquele mês deixou marcas profundas na sociedade francesa e ajudou a garantir conquistas importantes em todo o ocidente: direitos das minorias, o respeito às diferenças, os direitos civis...

A França da década de 60 era ainda um país marcado pelos traumas da II Grande Guerra. Até o presidente era o mesmo: o general Charles De Gaulle – líder da resistência contra os nazistas que foi primeiro-ministro em dois mandatos entre 46 e 59 e presidente entre 59 e 69. Neste contexto, as crianças eram tratadas com rigor; mulheres, negros, homossexuais não tinham espaço nem direito a voz.

Maio de 68 em HQ

Centenas de livros já foram escritos sobre o movimento de 68. Como não poderia deixar de ser (já que a França é a Meca dos quadrinhos), o Maio de 68 também é relembrado em comic book. Vamos aqui destacar dois deles:

“N’Effacez Pas Nos Traces” – de Jacques Tardi. Lançado em 2008, o livro tem um significado claro a partir do seu título (Não Apaguem nossos Vestígios). O álbum é construído baseando-se em músicas interpretadas pela cantora - e esposa de Tardi - Dominique Grange (alguns temas são da própria época e outros inéditos). Dominique foi uma das figuras mais proeminentes em 68. Um CD seu acompanha o livro de Tardi. Cada música inspira uma pequena história, conforme o traço inconfundível de autor e quadrinista. Confira música e desenhos no clipe abaixo:



O segundo livro é "Mai 68, histoire d'un printemps" (A história de uma primavera) – de Alexandre Franc e Arnaud Bureau. "Como muitas pessoas da minha geração (nasci em 1977), sou herdeiro daquele período. Maio de 68 influenciou muitos aspectos da minha vida, principalmente em relação à liberdade social e moral que vivenciei crescendo na França. Acredito que maio de 68 testemunhou o nascimento de uma nova geração, que acordava para uma nova mentalidade que persiste até hoje", afirma o autor Arnaud Bureau. O livro está disponível para leitura no site do jornal Le Monde (imperdível). O prefácio é assinado por ninguém menos que Daniel Cohn-Benedit, um dos principais líderes do movimento estudantil em Paris. Confira uma pequena mostra no clipe:

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Quadrinhos africanos - Parte II

Com a ajuda de uma reportagem publicada no site de revista Raça Brasil, resgatamos as biografias de alguns dos artistas africanos que tiveram seus trabalhos expostos na mostra Picha, em São Paulo. Confira uma pequena visão de cada um dos artistas.

Farid Boudjellal - nasceu em Toulon, em 1953, de uma família argelina. Contraiu poliomielite com oito anos. Isto não o impediu de fazer seus estudos universitários, mas seu coração estava em outro lugar: nas Histórias em Quadrinhos. Sempre escrevia histórias curtas, mas passou a dedicar-se a um trabalho mais amplo: o livro L’Oud (Oud é um instrumento clássico árabe de cordas). Boudjellal mudou-se para Paris e deu início a seu próprio estúdio junto com Jose Jover e Roland Monpiere. A primeira parte de sua obra prima Petit Poilo foi publicada em 1998. É um romance todo desenhado sobre um pequeno menino chamado Mahmoud Slimani que cresce em Marselha e contrai poliomielite. Boudjellal enfrentou seus traumas infantis nesta série em que oferece a seus leitores um relance do cotidiano de um imigrante.



Hector Sonon – nasceu em Benin em 1969. Lançou-se como cartunista e ilustrador no primeiro jornal diário do país, La Gazette du Golfe (A Gazeta do Golfo). Ele publicou suas primeiras páginas no jornal satírico Le Cafard Enchainé (O delator acorrentado). Seu primeiro álbum de Histórias em Quadrinhos, ‘Zinsou et Sagbo” foi direcionado para jovens e publicado em 1990. Durante anos, Sonon ilustrou muitos livros infantis. Em 1997, seu trabalho e o do desenhista Yvan Alagbe foram exibidos no Festival de Quadrinhos, Stripdagen em Haarlem, Holanda. Sonon também contribuiu para duas coleções de álbuns que ajudaram muito a difusão dos quadrinhos africanos.


Barly Baruti - nascido em 1959, na cidade de Kisangani (Congo). Criou um livro para a Corporação Técnica Belga sobre a conservação da natureza: Le temps d’agir (Tempo de agir). Mais tarde desenhou outra História em Quadrinhos de tema ecológico com o título Objectif Terre! (Objetivo Terra!) Barly Baruti estudou roteiro em Angoulême e trabalhou nos estúdios Hergé. Baruti desenhou para as revistas Kouakou e Calao, fundou um Ateliê de Iniciação à Arte, um Centro Cultural e também lançou a revista mensal Afro BD, deu aulas, publicou o álbum La voiture c’est l’aventure (O carro é a aventura), em 1987, e fez desenhos para a edição africana de ‘Ppa Wemba: Viva la musica!’. Criou a famosa trilogia “Eva K” com o roteirista Frank Giroud, também já publicado na Holanda. Atualmente está trabalhando com o roteirista francês Alain Brezault em um quadrinho de ficção cientifica e criou o pôster e o logotipo para a exposição Picha.


Pat Masioni - nasceu no sul do Congo, em 1961. Estudou Artes na Academia de Kinshasa e tornou-se ilustrador desde 1985 em uma editora. Seus álbuns foram distribuídos para todas as paróquias católicas do país. Masioni foi diretor artístico em três edições do Festival de Histórias em Quadrinhos em Kinshasa. Ele foi forçado a fugir de seu país por causa de suas ferozes charges anti-governamentais e atualmente vive em Paris. Em 2005, ganhou fama internacional pela publicação de um álbum de Histórias em Quadrinhos em dois volumes sobre a guerra entre os Hutus e Tutsis em Ruanda, ocorrida em 1994. Este relato explícito da guerra em Ruanda coloca Masioni entre os grandes mestres das Histórias em Quadrinhos e Ilustração.


Patrick Essono – o artista usa pseudônimo de Pahé. Nasceu no Gabão em 1979. No Primário já fazia desenhos nas paredes da escola. Mudou-se com sua família para a França. O jovem Patrick ficou surpreso ao descobrir costumes e hábitos tão diversos, e retratou-os com humor saboroso na primeira parte de seu livro: La vie de Pahé (A vida de Pahé). Ele escreve: “Meu país é rico em petróleo…É por isso que está cheio de favelas.” O estilo humorístico de seus desenhos foi influenciado pela revista francesa Hara-Kiri e por um de seus fundadores, o desenhista Jean-Marc Reiser. Em 2006, Pahé ganhou o primeiro prêmio na categoria charge no Terceiro Salão Africano do Livro, em Genebra.



Ramón Esono Ebalé - é conhecido pelo pseudônimo de Ramon y Queso. Este nome é um jogo de palavras: presunto e queijo em espanhol. Quando Ebalé tinha oito anos, seus pais o colocaram em uma escola espanhola onde aprendeu a desenhar, a pintar e a esculpir, e provavelmente, onde adquiriu também seu apelido. Mais tarde, começou sua carreira nos quadrinhos sempre muito bem sucedida. Ebalé publicou em vários jornais e revistas da Guiné Equatorial mesmo quando submetidos a uma censura severa. Ebalé trabalha para o Centro Cultural Espanhol e Francês, para uma companhia americana e é ilustrador do UNICEF. Nos últimos anos, tem trabalhado para lançar Para-Jaka, a primeira revista africana online de quadrinhos. Em 2006 realizou uma exposição no Festival de Angoulême, na França.


Adjim Danngar - nasceu no Chade, em 1982. Sob o pseudônimo de Achou, participou de vários concursos internacionais de Histórias em Quadrinhos e obteve o segundo prêmio na 10º Mostra do Mercato del Fumetto de Torino, Itália em 2004. De 2002 a 2004, trabalhou como ilustrador para o jornal Rafigui e para a revista satírica Le Miroir. Seus quadrinhos e ilustrações foram exibidos na França no Festival Texte et Bulles de Damprai e no Centro Cultural Francês em N’Djamena, no Chade. Danngar mora em Paris e tornou-se membro da organização L’Afrique Dessinée. Junto com o desenhista italiano Marcello Toninelli, Danngar criou uma história, The plague of kings (A praga dos reis) que aborda o tema da imigração de países em desenvolvimento.



Didier Kassaï - nasceu em Sibut na República Centro-Africana em 1974. Sua carreira nas Histórias em Quadrinhos começou em 1997 quando foi trabalhar no jornal Le Perroquet. Em 1999, seu trabalho apareceu no festival Gabones Journées Africaines de la Bande Dessinée. Também contribuiu para o álbum de coleção A l’ombre du baobab (À sombra do baobá), publicado no festival de Angoulême, França. Em 2005, Kassaï criou um quadrinho educacional para o projeto Educa 2000 em Bangui. Junto com Olivier Bombasaro criou o personagem Gipépé, le pygmée (Gipepê, o pigmeu). Kassaï ganhou muitos prêmios, entre os quais o de melhor quadrinho africano não publicado em 2006 pela organização italiana Africa e Mediterraneo. Em 2007 ganhou o primeiro prêmio no Festival de Angoulême, França.


Frank Odoi - Stephen Frank Odoi nasceu em Gana há 57 anos. Hoje vive em Nairobi, capital do Quênia. Começou a trabalhar como ilustrador de livros de Medicina. Como free-lancer, desenhou para as maiores editoras educacionais em Gana e Quênia. Seus trabalhos foram publicados em diversos jornais africanos e europeus. Sua História em Quadrinhos mais famosa é Golgoti que conta a chegada dos brancos na África da perspectiva dos negros. A história inicia-se com a vinda dos missionários e dos mercenários e termina com a independência na África atual. Akokhan, seu trabalho mais recente, foi publicado em 2007. O quadrinho conta uma história mítica e sangrenta de dois arqui-inimigos: Tonkazan e Akokhan. O subtítulo More than a comic story (Mais do que um quadrinho a cômico) parece profético após a publicação. Odoi nunca poderia ter imaginado que, logo depois da publicação de seu álbum, o Quênia seria vítima de uma guerra política entre Kibaki (presidente) e Odinga (filho do primeiro vice-presidente).


Kola Fayemi – nasceu em Ile-Ife, na Nigéria, em 1957. Formou-se como ilustrador e seus trabalhos apareceram em várias publicações. Cria também os roteiros para uma novela de televisão Super Story (Super história). Fayemi participa de campanhas educacionais e ilustrou o livreto How you can combat HIV/AIDS (Como você pode combater o HIV/AIDS). Em 2006, contribuiu na exposição do Studio Museum em Harlem, Nova Iorque com sua história Monster in Khaki (Monstro em Khaki), onde chama a atenção para a violência policial em seu país. O quadrinho fala de uma jovem que vai à delegacia para tentar liberar seu irmão e, em vez disso, é estuprada pelo delegado. De acordo com um projeto de pesquisa efetuado pelo Centro de Educação para Execução da Lei, mais de um terço de todos os prisioneiros sofre alguma forma de brutalidade policial. Uma curiosidade: a cidade de Ilê-Ifé é o berço de toda a religião tradicional yoruba (a religião dos Orixás, o Candomblé do Brasil)

Bob Kanza - nasceu na República do Congo, em 1977. Imigrou para a Costa do Marfim por causa da guerra civil em 1997 e fez o curso de Informática. Em Abidjan entrou em contato com dois chargistas: Zohore Lassane e Illary Simplice que constataram seu talento para desenho e o colocaram como um dos editores de Gbich. Em seu novo emprego, Kanza aprendeu a desenhar quadrinhos, caricaturas e charges. Em abril de 2000, nasceu seu famoso personagem: Sargento Deutogo, um policial corrupto que oferece seu serviço em troca de suborno. Em conseqüência de outra Guerra Civil em 2002, Kanza mudou-se para a França. Desde 2003 vem trabalhando como ilustrador free lancer e web designer.

Mohammed Nadrani –nasceu em 1954, nas montanhas Rif (Marrocos). Quando jovem, foi ativo na associação Marxista Leninista e foi preso durante um protesto estudantil em 1976. Sua aventura artística começou quando encontrou um pedaço de carvão na sua cela e começou a desenhar, o que o levou mais tarde a publicar o álbum de Histórias em Quadrinhos Les Sarcophages du complexe (Os sarcófagos do complexo) sobre os anos da ditadura. .“Antes de encontrar o pequeno pedaço de carvão, eu trabalhava com um pincel que fiz com linhas soltas da minha calça”, escreve em seu álbum. Como tinta, usava café. Detido, Nadrani foi preso sem qualquer julgamento e solto em 1984. “Tenho muito orgulho deste álbum de Histórias em Quadrinhos que uso para desafiar as pessoas que tentaram quebrar-me por meio da tortura”.




Dwa - Eric Andrieantsialonina, ou Dwa, nasceu em 1982 na cidade de Alatsinainy Bakaro (Madagascar). Estudou economia na Universidade. Um de seus primeiros trabalhos foi Pions - sobre o menino Benja que não tem consciência de seus dons sobrenaturais, comuns na cultura de Madagascar. Dwa frequentou dois cursos de Histórias em Quadrinhos organizados por Olivier Apollo e Serge Huo Chao Si, da ilha Reunião. Participou de festivais de quadrinhos em seu país e no exterior Em 2006, vinculou-se à Kirajy Band, uma associação de ilustradores, criando a revista satírica Saringotra.

Quadrinhos africanos - Parte I


“Sabe-se tudo sobre a maneira como morrem os africanos e nada sobre a maneira como eles vivem.”

Georges Courade em L’Afrique des Idées Reçues


Preconceito, ignorância, pena, medo, exploração... O continente africano, e os seus diferentes povos, continuam sendo até hoje um universo desconhecido para a grande maioria da população mundial. As imagens de homens, mulheres e crianças famintas em campos de refugiados são a primeira coisa que nos vem à mente quando pensamos na África. A segunda ideia que está diretamente ligada ao conceito que temos sobre o continente são as sangrentas guerras civis. E a terceira imagem é de imensas extensões de terra tomadas por leões e elefantes selvagens.

É verdade que a África continua a ser o continente mais vitimado do planeta pelas guerras, pela fome e doenças. Séculos de exploração ininterrupta mantém a grande maioria da população africana (estimada – em 2006 – em 924,5 milhões de habitantes) abaixo do nível de pobreza definido pelo Banco Mundial (onde as pessoas vivem com menos de 1 dólar por dia). É também verdade que diferentes tipos de doenças – em especial a AIDS e a Malária – continuam matando milhões de pessoas todos os anos. Mas a África não é só isso. Não mesmo.

As imagens massificadas pela mídia mundial nos passam uma visão de que o continente seria um bloco monolítico. Mas, olhando de perto, a África surpreende pela sua diversidade: são 54 países e mais de mil línguas. E esta diversidade e força começam a ocupar seu espaço.

Escritores e músicos africanos já podem ser encontrados com alguma facilidade nas livrarias da Europa e Américas. Nomes como: Mia Couto, José Eduardo Agualusa, John Maxwell Coetzee, Paulina Chiziane, Cheb Mami, Khaled, Alpha Blondy, Ismael Isaac, Sade Adu ou Youssou N'Dour são uma pequena mostra da expressividade da voz africana que busca seu reconhecimento mundial.

O fenômeno dos quadrinhos

É neste contexto cultural e político que o quadrinho africano se insere.

A pesquisadora brasileira Sônia M. Bibe Luyten, em sua coluna Quadrinhos pelo Mundo (no site Universo HQ), resgata a origem das primeiras manifestações em quadrihos no continente: “... uma das primeiras revistas de quadrinhos foi publicada em Angola (e figura entre as pioneiras do continente) e, infelizmente, é de autoria anônima. Trata-se de A vitória é certa – Manual de alfabetização, editada em 1968, em Luanda, pelo Movimento Popular de Libertação de Angola. Esta produção da África negra reflete a tradição oral, e as Histórias em Quadrinhos podem ser encaradas como um ponto de articulação entre a oralidade e a escrita, entre a tradição e a modernidade. A tradição oral da sociedade africana tem como base o conto que, como vimos, além de ter um alcance essencialmente didático, é também fonte de entretenimento. As histórias se transportam do real para o fantástico e oferecem às crianças uma fonte inesgotável de elementos para a imaginação.”

Facilitada pela difusão da Internet, a produção de artistas do continente começa a ganhar espaço. Em 2006, o Studio Museum in Harlem realizou a primeira exposição de autores de quadrinhos africanos nos Estados Unidos. A mostra “Africa Comics” reuniu trabalhos de 35 artistas de diferentes países como: Nigéria, Camarões, Senegal, África do Sul, Moçambique entre outros. A exposição recebeu uma crítica extremamente positiva do jornal The New York Times que classificou as obras de “Intensas”. Entre os trabalhos apresentados ao público havia desde histórias de super-heróis até a denúncia sobre as mutilações femininas praticada ainda hoje em diferentes países africanos.

Em 2008 o Museu Africano Holandês apresentou uma exposição que reuniu 19 artistas dos quadrinhos feitos no continente. Estes trabalhos ganharam o mundo, literalmente. A mostra viajou para Lagos, na Nigéria (novembro a dezembro de 2008), Espanha (maio a junho de 2009), e Brasil (14 de outubro 08 de novembro de 2009). Além disso, o Museu criou um site específico para quem quer conhecer mais sobre a produção de comics na África. O site Picha (na língua Swahili, ou suali, quer dizer "desenho") reúne um banco de dados sobre os artistas expostos, uma amostra de quadrinhos educacionais africanos e links de revistas especializadas em comics na África.

Crônicas de um viajante

Países distantes, animais exóticos, culturas diferentes... Os relatos de viajantes sempre despertaram a atenção dos leitores. Heródoto, Ibn Battuta, Marco Pólo, Américo Vespúcio, Hans Staden e outros grandes aventureiros produziram crônicas de viagem que os tornaram conhecidos e eternizados.

Apostando nesta fórmula infalível o artista canadense Guy Delisle vem produzindo uma sequência de publicações que exploram esta ânsia dos leitores por crônicas de viagem. E sua matéria prima não poderia ser melhor. Os livros de Delisle lançados no Brasil pela Zarabatana Books, reproduzem as aventuras do autor por três dos países mais enigmáticos para os ocidentais: Coréia do Norte, China e Birmânia.

Além de quadrinista, Delisle trabalhou durante anos em projetos de animação percorrendo estúdios em vários países do mundo: Canadá, França, Alemanha, China e Coréia do Norte. Estas viagens forneceram o material que o autor precisava para suas histórias: a gastronomia exótica (em Shenzhen, Delisle provou sangue de serpente e carne de cachorro), o transporte público, a censura da mídia, a receptividade das pessoas, os costumes estranhos...

Delisle não tem a pretensão de fazer um relato com o rigor de um historiador ou a criticidade de um jornalista. Ele simplesmente coloca no papel tudo o que acontece no seu dia-dia. Nisto consiste muito do interesse que a sua obra desperta no público e, ao mesmo tempo, uma certa fragilidade e superficialidade que seu estilo de narrativa apresenta. O fato de empresas francesas e canadenses realizarem a produção de animações na China ou Coréia devido aos baixíssimos salários dos artistas, por exemplo, não recebe nenhuma menção de Guy. Mas, não é esse o principal problema do autor. O mais complicado é que Delisle produz um trabalho extremamente auto-referenciado que às vezes se torna repetitivo e enfadonho. Diferente do trabalho de Marjane Satrapi (ver texto já postado no blog), por exemplo, que apesar de auto-biográfico, consegue manter a densidade de uma grande obra literária. Falta a Guy este olhar mais crítico e atento. Menos preso às aparências e à superfície das coisas.

Apesar desta crítica, talvez mais severa que o necessário, os trabalhos de Guy são interessantes e valem a pena ser conferidos: “Pyongyang – uma viagem à Coréia do Norte”, “Crônicas Birmanesas” e “Shenzhen, uma viagem à China”.

Observadores privilegiados

“Em Nova York, há um passeador de cães profissional nas imediações das East Seventies Streets, um psicólogo de gatos no número 141 da Lexington Avenue e uma senhora baixinha que divide seu apartamento na Forty-Sixth Street com dois pombos que têm pernas de pau. Em Sutton Place, um homem pesca enguias de sua janela no décimo oitavo andar, e no número 880 da Fifth Avenue há uma mulher contratada pela Sociedade Norte-americana de Pesquisa Psíquica para investigar fantasmas e outros fenômenos paranormais. Em várias partes da cidade existem clubes de gente que não bate bem da bola e de gente que está pela bola sete, e todo ano as prostitutas enchem a bola dos proxenetas e promovem um Baile dos Cafetões num hotel do centro da cidade. Acontecem coisas em Nova York que provavelmente não acontecem em nenhum outro lugar” (Gay Talese, “Fama e Anonimato”)

Nova York é, sem dúvida, uma das cidades mais reverenciadas do mundo. Intérpretes das mais diferentes formas de expressão já dedicaram seu talento a retratar e homenagear a cidade e seus personagens. Cineastas como Woody Allen, músicos como George Gershwin, pintores como Roy Lichtenstein conseguiram transpor para a arte a paixão contagiante que a cidade imprime.

Poucos intérpretes, entretanto, foram tão felizes ao traduzir Nova York como o escritor e jornalista Gay Talese e o quadrinista Will Eisner. A referência aos dois não é um mero acaso. Um aspecto em especial une os dois artistas: ambos souberam traduzir o sentimento da massa de anônimos que vivem na cidade. As crônicas de Talese (um dos criadores do jornalismo literário) e as histórias de Will Eisner (considerado o pai da Nona Arte) falam das pessoas invisíveis, dos esquecidos, dos moradores de rua, dos moradores dos guetos da cidade...

Para quem quer conhecer Nova York nas suas entranhas, com suas contradições, absurdos e mistérios, o Blog NonaArte oferece duas dicas imperdíveis de leitura: “Nova York – a vida na grande cidade” de Eisner e “Fama e Anonimato”, de Talese. Ambos os livros lançados pela Companhia das Letras.

O olho que vê

Will Eisner dizia: “Para mim, os tipos urbanos sempre pareceram singulares em seu estilo e sensibilidades. É claro, a vida nas entranhas de uma grande cidade é muito diferente daquela de uma pequena comunidade rural. Conforme acumulam-se a astúcia das ruas e as habilidades de sobrevivência, afirma-se o triunfo do meio ambiente sobre todos nós. Os principais fatores que caracterizam a cidade são: tempo, cheiro, ritmo e espaço.”

“Nova York”, de Eisner é resultado da fusão de quatro outros trabalhos do autor produzidos entre 1981 e 1992: “Nova York: a grande cidade”; “O Edifício”, “Caderno de tipos urbanos” e “Pessoas invisíveis”. Com seu olhar atento, Eisner constrói um verdadeiro compêndio de personagens. Como ele mesmo diz: “uma espécie de estudo arqueológico dos tipos urbanos”.

Estão presentes no livro os bêbados, as crianças, as prostitutas, os desempregados, os moradores dos cortiços, o músico, o empresário falido, o ladrão, o motorista de táxi... Curioso notar a predileção que Will Eisner tinha pelo bairro pobre do Bronx e por um lugar em especial: a avenida Dropsie. Eisner era um Nova-iorquino legítimo. Nascido e criado no Brooklin é, possivelmente, o artista que melhor soube compreender o espírito da cidade de Nova York: cosmopolita, impessoal, cruel, apressada, surpreendente...

O artista é o observador e narrador. Na maior parte do tempo anônimo. Mas Eisner também se retrata em algumas histórias originalmente presentes em “Caderno de tipos urbanos”. Talvez para acentuar a percepção de que tudo aquilo é real e foi presenciado por ele mesmo durante sua vida, toda ela passada na metrópole.

Assista uma fantástica versão sobre Nova York que une a música de George Gershiwn e a animação da Disney. O filme está em Fantasia 2000. A música é Rhapsody in Blue.

Jornalismo e Quadrinhos - parte II

A linguagem dos quadrinhos começa lentamente a romper, no Brasil, os limites pré-estabelecidos das tirinhas e das resenhas de lançamentos. Artistas e editores têm feito experiências ainda bastante restritas, mas significativas, de fusão entre os quadrinhos e a narrativa jornalística. As três experiências mais significativas registradas até hoje aconteceram no jornal A Tarde (BA), no Correio Braziliense (DF) e na Folha de S.Paulo (que recentemente publicou reportagens de Joe Sacco).

O jornal A Tarde publicou em novembro de 2007 uma longa reportagem sobre o movimento estudantil na Bahia. O trabalho realizado por Leandro Silveira, Caio Coutinho e Fábio Franco foi criado originalmente como um projeto de conclusão de curso no Centro Universitário da Bahia. As notícias sobre o projeto chegaram até o jornalista Ricardo Mendes, professor universitário e diretor de conteúdo do A Tarde, que decidiu publicar a história. Em entrevista ao site Comunique-se, a editora do Caderno Dez (onde a reportagem em quadrinhos foi publicada) comenta: “O jornal já vinha experimentando outras linguagens, incluindo duas reportagens em quadrinhos, uma sobre o caso Madeleine e outra sobre o dia de Cosme e Damião. Mas eram histórias de uma página".

A primeira parte da reportagem “Vamos à Guerra: mocidade baiana exige entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial”, relembra as manifestações de rua de 1942, pela adesão do Brasil à Guerra contra o Nazismo. A segunda parte “Do palco para as ruas: uma história de estudantes”, fala sobre a greve de estudantes logo após o golpe de 1964. “Reconstrução e Quebra-Quebra” trata sobre o congresso da UNE realizado em Salvador, em 1979. E o último capítulo da série “Estudantes do Novo Milênio”, relembra os movimentos populares em favor da cassação do Todo-Poderoso Antônio Carlos Magalhães.

Ao site Comunique-se os estudantes contam que tiveram de fazer uma grande pesquisa histórica para reconstituir cenários e figurinos. Para concluir o trabalho, três desenhistas, Franklin Mendes, Rodolfo Troll e Thiago Durães, e um designer, José Roberto Almeida, foram contratados para ilustração e direção de arte. “É tudo um grande trabalho de equipe. Se o jornalista sabe desenhar, melhor. Se não, trabalha em conjunto”, afirma Silveira.

Veja a primeira parte da série:

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Correio Braziliense

Em novembro de 2009 o principal jornal de Brasília trouxe uma série de reportagens sobre o crescimento do tráfico de Crack na capital e em outras diferentes regiões do país. O ponto alto da série foi a publicação de uma página em quadrinhos que conta a visita da repórter Samanta Sallum ao Morro de Santa Teresa, em Porto Alegre. O local, chamado de Chapaquistão é dominado pelo tráfico. Mas é lá também que se encontra uma das principais vozes de resistência contra o crime organizado e o tráfico de drogas na capital gaúcha: Manoel Soares, presidente da Associação de Moradores e conselheiro nacional da Central Única das Favelas (CUFA).


Samanta queria mostrar como era a vida dentro de uma área dominada pela violência e pelas drogas. Mas seria impensável subir o morro com máquina fotográfica ou gravador. A única forma de registrar a visita seria através de seus olhos e sua memória... Mas, como passar ao leitor a sensação de medo e perigo que ela havia experimentado no Chapaquistão. E como fazer isso sem expor a identidade das pessoas que ela encontrou no caminho? A saída foi fazer uma reportagem em quadrinhos com o apoio de ilustrador e quadrinista Kleber Salles. Kleber já é conhecido nacionalmente por outros trabalhos publicados na revista Ragu ou pela sua versão para o conto “A Cartomante”, de Machado de Assis publicado no “Domínio Público”.

O trabalho de Samanta Sallum e Kleber Salles é inovador e pioneiro. Diferente da reportagem publicada em 2007 no jornal A Tarde (que tinha caráter de pesquisa histórica), a página publicada no Correio Braziliense traz a linguagem dos quadrinhos para o cotidiano do jornal. Uma história vibrante, real e impactante.

O Resultado é de excelente qualidade. O texto de Samanta está em perfeita sintonia com a dinâmica narrativa de Kleber. Em apenas uma página o leitor consegue sentir o clima asfixiante que a repórter viveu ao subir o morro e encontrar-se pessoalmente com os líderes do tráfico. A frustração foi o tamanho que a reportagem ocupou. Ficou um indisfarçável sentimento de “quero mais”.

Uma família em seu labirinto


“Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.”
León Tolstoi em Ana Karenina

Os Loony parecem uma família como milhares de outras. Os pais, um casal de classe média americana, criaram três filhos em meio a crises financeiras, álbuns de fotografia, viagens de férias e brigas. Os filhos têm suas diferenças e esquisitices. Mas, no fundo, todos vivem uma aparente normalidade. Até que Maggie e David anunciam que estão se separando após 40 anos juntos; e tudo começa a ruir. Só então, os Loony aparecem como realmente são: entidades flutuantes e separadas uma das outras, como ilhas. “Uma não família”.

Umbigo sem Fundo, romance gráfico do jovem americano Dash Shaw é uma viagem ao universo de uma família moderna, com seus dramas, segredos e conflitos. A partir de uma história aparentemente simples, Shaw constrói uma trama ao mesmo tempo densa e humana. Em sua última semana juntos, os personagens desta tragédia familiar vão descobrir que estão irremediavelmente sozinhos.

O filho mais velho do casal, Dennis, não aceita a separação dos pais e tenta descobrir, de todos os modos, os motivos que levaram ao fim do casamento. Em sua busca, ele acaba descobrindo que a casa da família também esconde seus segredos. A casa dos Loony está repleta de labirintos, passagens escondidas, chaves que abrem compartimentos secretos... como os membros da família, que nunca se mostram totalmente. A trama envolve ainda Claire, a irmã de Dennis, sempre preocupada com os dramas de sua filha adolescente, Jill; Aki, esposa de Dennis e Peter, o filho mais novo de Maggie e David. Tímido e inseguro, Peter é a melhor síntese da família Loony: ele se sente tão desajustado e distante do restante da família, que o autor escolheu desenhá-lo como um personagem metade homem metade sapo.

As 720 páginas do livro passam rápidas e inquietas. Shaw construiu uma história bem estruturada que leva o leitor, de um pulo, até o final. Ansioso pelos encontros e desencontros de cada integrante da família.

O traço de Dash Shaw está longe de um trabalho clássico. Seu desenho é moderno, nervoso, grosseiro e às vezes sujo. Mas é eficiente... O artista demonstra um domínio total da narrativa gráfica. Ele se utiliza de todos os recursos possíveis: páginas em branco, do diferente número de quadros por páginas, da reprodução de cartas e diários e do contraste entre o "barulho" e o "silêncio".

O livro, lançado no Brasil pelo selo Quadrinhos na Cia. (da Companhia das Letras), teve espaço especial na Bienal do livro do Rio de Janeiro, com participação do próprio autor. Seguindo a linha de outros excelentes romances gráficos (Fun Home ou American Born Chinese), Umbigo sem Fundo, que foi lançado no mercado americano em 2008 tem tudo para extrapolar as fronteiras dos quadrinhos e tornar-se também uma referência literária. Sem dúvida o livro já pode ser considerado o melhor comic book lançado no Brasil este ano.

Veja entrevista concedida por Shaw em sua visita à Bienal do Livro

Jornalismo e Quadrinhos - parte I

O jornalismo impresso está fazendo uma volta ao passado. Com os recursos técnicos disponíveis hoje, faz cada vez mais sentido um regresso às origens, à velha reportagem. Na Internet sobra informação e falta qualidade. Na era digital, desenhar a realidade, mais do que nunca voltou a fazer sentido. Joe Sacco foi um dos pioneiros deste novo jornalismo em forma de comic, um repórter que conta histórias através de desenhos.

Ele, no entanto, não é o único. Em todo o mundo estão acontecendo simultaneamente experiências que usam os quadrinhos como nova estrutura narrativa para o jornalismo. O jornalismo em quadrinhos é um gênero com novas fronteiras, que busca novos caminhos. A revista francesa XXI é um exemplo. De circulação trimestral, a revista dirigida pelo jornalista Patrick de Saint-Exupéry tem se destacado pelo uso de reportagens em quadrinhos desde sua primeira edição. Em outubro, o oitavo número da revista traz uma reportagem de Emmanuel Guibert (conhecido no Brasil pela trilogia “O Fotógrafo”). Nas edições anteriores já houve a presença de grandes nomes como: Jean Philippe Stassen, Jean Harambat, Maximilien Le Roy entre outros.

Esta é apenas uma das experiências. Nos Estados Unidos, o chargista do Herald Tribune, Patrick Chappatte, decidiu viajar a Gaza após os conflitos em janeiro deste ano. Em lugar de caricaturas, ele concebeu uma reportagem em quadrinhos com suas impressões sobre tudo o que viu e ouviu. Seu objetivo era: “Narrar os sofrimentos dos que não podem fazer nada: os civis”.

Enquanto isso, o Canadense Guy Delisle transforma em grandes livros-reportagem as suas viagens pela Ásia: Shenzhen, Pyongyang e Birmânia. Extraordinários retratos dos confins da Ásia.

No Festival de Angoulome (maior e mais importante festival de quadrinhos da França) a qualidade e o número de reportagens sobre o Afeganistão quase obrigava a organização do evento a criar uma categoria específica para os quadrinhos com histórias sobre o país. Os trabalhos de Nicolas Wild e Ted Rall são uma prova disso.

O veterano Joe Kubert, um dos maiores expoentes do comics nos Estados Unidos também incursionou pelo gênero. Em 1996 Kubert lançou o livro “Fax from Sarajevo”, onde conta a saga do amigo Ervin Rustemagic durante os ataques sérvios a Sarajevo (na Bósnia Herzegovina). Rustemagić e sua família perderam tudo o que tinham e passaram dois anos e meio vivendo em um prédio em ruínas, comunicando-se com amigos no exterior através de um fax, quando podiam. Com esse trabalho, Kubert conquistou o Eisner Award e o Harvey Award, as duas maiores premiações dos quadrinhos nos Estados Unidos.

Em 2008, as terríveis histórias que se seguiram ao enorme terremoto de 8 graus na escala Richter foram contadas de uma forma inédita e chocante. O artista chinês Coco Wang surpreendeu o mundo com uma série de histórias de vítimas da catástrofe. A surpresa foi ainda maior porque o mundo inteiro sabe a forma como a ditadura chinesa trata o controle de toda informação sobre o país.
Mais recentemente o site Archcomix, do americano Dan Archer, retratou os incidentes em Honduras por meio de quadrinhos. No mesmo site, em meio a outras histórias, chama a atenção uma reportagem sobre uma denúncia de trabalho escravo em fazendas que vendem produtos para a rede de Fast Food Burger King.

Na Inglaterra o jornal The Guardian publicou reportagens de Joe Sacco sobre o Iraque em 2005 , 2006 e 2007.

Este texto foi construído com informações do site espanhol Entrecomics e do jornal espanhol El País. Em breve vamos abordar as experiências de jornalismo e quadrinhos realizadas no Brasil.

Estigmas virou filme

Ele não era um santo. Aliás, nada mais longe de um santo do que ele: bêbado, arruaceiro, homem de poucos amigos... O caso é que, sem qualquer motivo, sem qualquer explicação plausível, apareceram nas suas mãos dois estigmas. Duas feridas que sangravam abundantemente, como se tivessem sido provocadas por pregos que atravessassem as palmas de um lado a outro. Como as feridas do Cristo crucificado...

O quadrinho "Estigmas", dos italianos Lorenzo Matotti e Cláudio Piersanti (publicado no Brasil pela Conrad Editora), conta a história de um homem que se vê às voltas com um destino improvável: de pária a santo, de bêbado a curandeiro...

Agora este roteiro fantástico chega às telas do cinema. O diretor espanhol Adán Aliaga acaba de lançar o filme "Estigmas" durante o 54ª Semana Internacional de Cinema de Valladolid. O diretor revela em seu blog que o personagem principal do quadrinho (Bruno) se tornou ainda mais rico, complexo e ao mesmo tempo mais sensível e humano no seu filme. "Bruno está muito marcado pela grande personalidade de Manolo Martinez (ator principal). Tentamos fazer uma adaptação respeitosa, com a história de Mattotti e Piersanti, mas também aportando a nossa personalidade e sensibilidade", diz o diretor.

O jornal El Día de Valladolid definiu o filme como “Una película difícil en busca de su publico”. Estigmas é o primeiro filme de ficção de Adán Aliaga. Filmada em preto e branco, sem diálogos e com um ator protagonista não profissional (Manolo Martínez é um atleta lançador de pesos) a fita foi recebida por “um público dividido entre as vaias e a admiração por um trabalho com uma estética muito cuidada e uma fotografia com planos limpos”, diz a matéria do El Dia.

“Os estigmas são uma desculpa para falar de outro tipo de marcas que se colocam sobre as pessoas que não se adaptam à sociedade”, afirma o diretor. “A religião é um tema que me interessa muito. Creio que iconograficamente é muito potente e sempre estará presente em meus filmes, ainda que cada espectador faça uma leitura diferente do que quero contar com ele”, conclui Adán Aliaga.

Joe Sacco de volta à Palestina

Joe Sacco, considerado o maior nome do jornalismo em quadrinhos mundial, está de volta à Palestina. Depois de se dedicar ao longo dos anos 2000 a investigar as atrocidades cometidas durante os conflitos na antiga Iugoslávia, o jornalista maltês residente nos Estados Unidos lança no próximo mês, no mercado americano, o seu terceiro livro-reportagem sobre uma das regiões mais violentas e conflituosas do mundo.

Desta vez Sacco investiga uma matança de refugiados palestinos, metralhados por soldados israelenses. A tragédia aconteceu em 1956 em Rafah e deixou 111 mortos. Como em seus dois outros livros sobre a região, Sacco não faz segredo das suas opções políticas. Ele sabe bem de que lado quer ficar: do lado mais fraco.

A técnica do jornalista é a mesma de seus outros livros sobre a Palestina ou sobre a Bósnia. Ao longo de meses, Sacco convive com suas fontes, faz fotos, anotações e entrevista um sem número de poessoas. Ao final, tem um relato fiel e humano.

Confira, em primeira mão, 15 páginas do novo trabalho do jornalista.

O ovo da serpente

O que levou a Alemanha ao Nazismo? Que forças agiram no país recém devastado pela Primeira Guerra e que propiciaram o surgimento de Hitler?

Diferentes artistas, entre escritores e cineastas, já se dedicaram a compreender este momento decisivo na história do Século XX. Romances como O Tambor, de Günter Grass e filmes como O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman, investigaram – cada um ao seu modo – o ambiente político e social na Alemanha durante a República de Weimar (entre 1919 e 1933).

O público tem agora a possibilidade de conhecer a história da ascensão do Nazismo sob uma ótica totalmente nova: da narrativa em quadrinhos. O artista americano Jason Lutes ainda é um ilustre desconhecido pelas editoras e pelo público brasileiro. Mas lá fora, tanto nos Estados Unidos como na Europa, seu trabalho já é considerado como um dos mais importantes já produzidos na história da Nona Arte: os dois primeiros volumes de uma trilogia – Berlin, cidade das pedras e Berlin cidade de fumaça.

A série, lançada em 2000 (Berlim, cidade das pedras), une ficção e realidade para contar de forma emocionante e vibrante a história da Alemanha entre 1926 e 1933.

Lutes traça um retrato humano e extremamente fiel de um país mergulhado na pobreza, na fome e na violência. A escolha do artista é extremamente importante porque joga luz sobre uma época desconhecida do grande público e que ficou ofuscada pelos horrores da Segunda Grande Guerra e do regime nazista.

Para inserir o leitor no universo turbulento da Alemanha entre guerras, o artista lança mão de três personagens que funcionam como fios condutores da história: o jornalista Kurt Severin, a estudante de artes Marthe Müller e Silvia Braun, que precisa fazer todo tipo de trabalho para comprar comida para os filhos. Por meio de Kurt conhecemos um pouco da Alemanha agitada por intensas movimentações políticas. Marthe Müller nos mostra a sofisticada Alemanha dos clubes de jazz e dos aristocratas. Já Sílvia resgata o drama dos alemães famintos que se vêem às voltas com um País que se desmancha no ar.

Pesquisa

Antes de compor a primeira página de Berlim, Cidade das Pedras, Lutes realizou uma ampla pesquisa que consumiu dois anos de trabalhos. Em entrevista o artista contou ter reunido um amplo universo de referências que iam de mapas da cidade de Berlim em 1928 até fotos e gravuras de utensílios de cozinha. Este extremo cuidado com a fidelidade na reprodução histórica do cenário pode ser percebida a cada página: nas roupas dos personagens, na arquitetura da cidade, nos automóveis etc.

Lutes, apesar de americano, é discípulo direto do melhor quadrinho europeu. Sua construção narrativa remonta à tradição de autores como o mestre francês Jacques Tardi. Pena que nós, leitores brasileiros tenhamos que esperar tanto tempo para ter acesso a um trabalho tão fundamental ou sermos forçados a importar os livros dos Estados Unidos ou da Europa. Vamos torcer para que alguma editora nacional tenha a iniciativa de publicar o trabalho no Brasil.

O inferno nas Trincheiras

What passing-bells for these who die as cattle?
Only the monstrous anger of the guns.
Only the stuttering rifles' rapid rattle
Can patter out their hasty orisons. (...)


Que sinos dobrarão por estes que assim morrem
como animais? Só a ira horrenda dos canhões.
Só o rápido estrondar dos fuzis gaguejantes
deles dirá as apressadas orações. (...)


Wilfred Owen

A Primeira Grande Guerra Mundial deixou um saldo de destruição como a humanidade jamais havia visto antes. 19 milhões de mortos, outras centenas de milhões de feridos, cidades inteiras destruídas... Ela inaugurou uma nova era, em que os sucessivos avanços tecnológicos alcançados pela indústria militar elevaram o poder de devastação e morte a um nível jamais imaginado: o genocídio.

Foi na Primeira Guerra que os aviões começaram a ser usados em larga escala como estratégia militar. Foi também neste conflito que surgiram: o tanque de guerra (criado pelos ingleses), o canhões de longo alcance e o uso de armas químicas (como o gás mostarda). Mas foi nas trincheiras escavadas ao longo de quilômetros das áreas de conflito que a I Guerra mostrou o seu lado mais sombrio e desumano.

Entre 1914 e 1918, os exércitos de ambos os lados da Guerra (Tríplice Aliança e Tríplice Entente) escavaram buracos no chão que formavam quilômetros verdadeiros labirintos e ficavam à espera do inimigo por meses a fio. O poeta inglês Siegfried Sassoon, que lutou na Primeira Guerra, descreve as trincheiras como “buracos em que os soldados são atacados por ratos e onde os que estão dormindo parecem que estão mortos – e muitos de fato estão”.

O artista francês Jacques Tardi ouviu desde criança as histórias de atrocidades e horror contadas pelo avô, ele próprio um sobrevivente da guerra. Anos mais tarde estas memórias e os relatos de outros ex-combatentes se transformariam em uma das mais significativas páginas já escritas sobre o conflito. Na verdade, a I Guerra virou uma obsessão de Tardi, que lançou três livros sobre o tema e este ano publicou mais uma história sobre o conflito (Putain de Guerre! 1914-1915-1916). “Me emocionei muito ao ver fotos da época... sequências de pobres desgraçados, alemães ou franceses, de olhar perdido... sua angústia e medo são visíveis. E eu me fazia sempre as mesmas perguntas: como podiam descansar sob o fogo cruzado? Como podiam dormir? Como despertavam? De onde tiravam um pouco de esperança para ter aquela energia?”

“A Guerra das Trincheiras – 1914/1918” lançado em 1993 (c’était La guerre dês tranchées) é uma história sem heróis, sem protagonistas. Nas palavras do próprio Tardi, há somente um “enorme e anônimo grito de agonia”. Ao longo de 126 páginas o artista reproduz as tragédias pessoais de homens – a maioria deles extremamente jovens – que morriam e matavam sem compreender porque.

Documento para a História


Jacques Tardi, assim como havia feito em “O Grito do Povo” (seu único livro lançado no Brasil), consegue envolver o leitor em uma trama de ficção mas, ao mesmo tempo, extremamente real, de soldados sem nome, abandonados à própria sorte. Um francês, atingido pela baioneta de um soldado alemão, tenta inultilmente conter suas vísceras no capacete. Outro, obrigado por um oficial a retirar o corpo em decomposição de um soldado preso aos arames farpados, pensa na mulher nos seus últimos instantes, antes de ser ele também abatido.

E como não citar a história de Mazure, um soldado francês ferido que busca se esconder em uma igreja, onde encontra Werner, um soldado alemão. Eles fizeram um pacto: se a área caísse em mão dos alemães Mazure seria prisioneiro de Werne. Do contrário, Werner ficaria sob poder de Mazure. Bastava esperar e ficar a salvo dos tiroteios. Ao final, o esconderijo dos dois é descoberto por soldados franceses. Werner é imediatamente morto e Mazure fuzilado sob a acusação de confraternizar com o inimigo.

A Guerra das Trincheiras é um livro fundamental para quem busca entender um dos mais importantes acontecimentos da história e que acabou meio esquecido com as atrocidades das guerras que se seguiram. Infelizmente o livro ainda não teve a sua versão brasileira.

Confira o trailler do filme A Trincheira, de 1999, do diretor William Boyd e estrelado por Daniel Craig (o mesmo ator dos dois últimos filmes de 007)

Um furacão chamado Fats


A década de 1920 entrou para a história como a Era de Ouro do Jazz. E não foi à toa. O cenário da música americana, e de Nova Iorque em especial, fervia de novos talentos. O Harlem era o centro deste universo. Dali surgiam nomes como: Duke Ellington, Art Tatum, James P. Johnson, Willie "The Lion" Smith e as Harlem Big Bands.

Foi neste cenário de efervescência que surgiu Thomas “Fats” Waller. Exímio pianista, compositor, organista, comediante e ator, Fats era uma unanimidade. Louis Armstrong (considerado por muitos como o “pai” do Jazz) dizia que bastava mencionar o nome de Fats para ver um sorriso em todos os rostos. Suas performances eram inigualáveis. Basta ver os registros da época para se contagiar com seu sorriso ou com o jeito como arregalava os olhos no meio de uma frase.

Thomas Wright Waller nasceu em Nova Iorque em 1904. Ele era filho de um pastor batista e teve a sorte de estudar piano clássico e órgão na igreja. Ainda jovem recebeu aulas de James Johnson (na época, já conhecido no Harlem), que o ensinou o Jazz. Fats era um virtuose ao piano. Sua técnica era tão apurada que alguns críticos dizem que se ele não fosse músico de jazz e negro, poderia ter feito carreira como intérprete de música erudita nas melhores orquestras do mundo.





Fats fez uma carreira brilhante nos Estados Unidos e depois conquistou a Europa. Tornou-se um sucesso comercial e de crítica. Mas, em 1943, no auge da sua carreira, ele morreria de hipotermia em um vagão de trem quando viajava para Kansas City. O sistema de calefação da sua cabine quebrou e Fats morreu, aparentemente, dormindo.

A partir desta história o escritor, jornalista e crítico de jazz argentino Carlos Sampaio e o artista italiano Igort resolveram construir um comic book que é mais que uma simples biografia de Fats, mas uma crônica dos anos 20, 30 e 40. A partir da trajetória do músico eles recompõem a ascensão do nazismo, a quebra da bolsa de Nova Iorque, a Guerra Civil Espanhola, os expurgos de Stalin, o início da Segunda Grande Guerra... O álbum Fats Waller, inédito no Brasil, foi considerado um dos melhores trabalhos lançados na Europa em 2005.

O traço de Igort é minucioso e recria com detalhes a atmosfera da época, optando por enquadramentos abertos, permitindo ao leitor entrar na descrição dos ambientes e reconstruir visualmente a Europa e América daqueles anos intensos.

Diz a história que Louis Armstrong, ao saber da morte de Fats, chorou durante horas. Ler Fats Waller é sentir mais que a perda do músico, a dor pela perda da inocência... A tristeza por um mundo irremediavelmente perdido.

1968: Ditadura Abaixo


O projeto “Ditadura Abaixo”, coordenado pela jornalista paranaense Teresa Urban, poderia ser uma excelente crônica sobre os movimento estudantis em Curitiba, no período da ditadura militar. Ou ainda um “almanaque” de curiosidades dos anos 60/70. Ou, quem sabe, uma excelente reportagem em quadrinhos sobre a repressão aos movimentos estudantis durante os anos de chumbo. Ao final, “Ditadura Abaixo”, pela ânsia de ser tudo isso ao mesmo tempo, acaba não sendo nenhum dos três.
A crítica parece cruel, mas não é. Explico...

O livro “Ditadura Abaixo”, escrito por Teresa Urban, ela própria uma militante estudantil nos anos 1960 e ilustrado por Guilherme Caldas, reúne textos, recortes de jornais e revistas, propagandas da época, documentos obtidos no Dops (Delegacia de Ordem Política e Social), fotografias, fanzines, letras de músicas e... quadrinhos. Tudo isso em uma mesma página. O resultado, como seria de esperar, é confuso, sem foco.

Se os autores tivessem optado por uma reportagem em quadrinhos sobre o ano de 1968, resgatando os bastidores do movimento estudantil, e utilizado todos os elementos reunidos através de uma minuciosa pesquisa para uma reconstituição mais detalhada e fiel de roupas, do ambiente, e dos personagens, “Ditadura Abaixo” poderia ser um dos mais importantes documentos em quadrinhos já lançados no Brasil.

Infelizmente, não é isso que vemos. De todo modo, a leitura é didática e é um serviço para as novas gerações que nunca ouviram “Alegria, Alegria” ou “Para não dizer que não falei de flores”. Mas decepciona aos aficionados por quadrinhos.