sábado, 31 de julho de 2010

O cavaleiro da triste figura


Lanza en Astillero (“Lança no estaleiro”) é uma antologia de 20 curtas histórias que adaptam um episódio (ou o transformam) da famosíssima obra de Miguel de Cervantes, El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha. Apesar de ser editado pela Câmara dessa região espanhola, o louvor da acção recairá seguramente em Jesús Cuadrado, conhecido autor e paladino dos tebeos no país vizinho e, claro está, dos 28 artistas – desenhistas, ilustradores, escritores – que embarcaram no projecto (se aumentarem a imagem, conseguirão ver a lista completa na portada).

Um pouco dos preliminares do projecto: Cuadrado fez uma selecção muito directa nos convites que fez, considerando artistas específicos que, segundo o mesmo autor, “representam a autoria num estado puro, caracterizando-se pela forma como rompem com a linguagem convencionalmente industrializada, ao mesmo tempo que estão inseridos nos movimentos estéticos mais radicais da banda desenhada que surgiu e foi publicada desde os anos 80”. Se bem que estejam presentes artistas que de facto e claramente se inserem nessa descrição estética (o exemplo gritante de Stefano Ricci, por exemplo), há outros tantos que não me parecem se demarcar substancialmente de uma aproximação mais “classicizante”. Isso não quer dizer “trabalho fraco” ou “displicente”, de forma alguma; simplesmente há que recolocar os termos dos trabalhos apresentados.

Os artistas foram convidados, com toda a liberdade possível, a escolherem um “fragmento” qualquer das duas partes do Quixote, passando à sua reescrita em banda desenhada, com as seguintes restrições: “cinco páginas verticais, em tintas bitonais (tons terra ou siena)”, mas sob as técnicas mais habituais da banda desenhada, como e se preferissem. Pedia-se ainda que a selecção do episódio fosse mantida em segredo em relação aos outros autores, para que, no caso de coincidência, se pudessem prestar a diferentes interpretações do mesmo, acedendo-se assim a “uma riqueza acrescentada à obra colectiva ao surgir uma confrontação estética em si mesma e pelas possíveis dualidades ou coincidências”. E afinal, é o que acontece, com cinco instâncias do mesmo episódio da “Las cortes de la Muerte”, pela mão de Filipe Abranches, Miguel Calatayud, Denis Deprez, e ainda Miguel Ángel Ortiz com Álvaro Ortiz. A eles voltaremos mais adiante.

A obra de Cervantes é uma daquelas obras para a qual os adjectivos existentes não presta homenagem suficiente... magnífico, sempiterno, esmagador, parecem aquém; clássico parece banalizá-lo; genial um crime intelectual. Talvez a mais extraordinária maneira que alguém alguma vez se expressou sobre este(s) livro(s) tenha sido a do cervantista e poeta catalão Marti de Riquer que, face a uma pessoa que jamais tinha lido o Quixote, disse: “Felicidades, porque ahora tiene la. oportunidad de pasárselo muy bien”. E, realmente, não há provavelmente melhor leitura feita do Quixote do que a primeira – e aconselho que seja feita com vontade, sem demoras e interrupções. Para os que puderem (e não é difícil, os dicionários existem para isso), leia-se no original. O Quixote é uma daquelas obras literárias que consegue, ao longo dos tempos e das atitudes, receber qualquer nome, qualquer apodo, qualquer interpretação (um pouco, mas bem diferentemente, do que o nosso “clássico”, Os Lusíadas): inclusive a de “pós-moderno”. Afinal, é Cervantes quem inventa o romance moderno, e é lá que existem todas as raízes daquilo que fundamentaria a literatura do século XX: a “corrente de consciência”, a “transliterariedade”, o “experimentalismo de géneros”, a “dissertação metalinguística” e “metaliterária”, e tantas outras assombrosas torções artísticas. Por exemplo, para quem não o souber já, Cervantes não planeava escrever uma segunda parte, mas face à quantidade de obras, que não do seu punho, que surgiram na esteira da sua, colocando a sua personagem ora por episódios demasiado ridículas para Dom Alonso ou demasiado elevadas, mas todas descaracterizadoras, Cervantes resolveu atacar essa praga, escrevendo essa derradeira segunda parte, onde Quixote chega a encontrar-se com “outro Quixote”, e na qual o seu autor, provavelmente de forma dolorida, lhe põe fim à sua vida.

Para além disso, estou em crer que talvez a grande força desta obra seja a permanente dúvida que atravessa os livros – ou melhor, a dúvida que se vai insinuando e crescendo ao longo da obra: serão estas aventuras alucinações de Dom Alonso (e esqueçam as adaptações a cinema, mesmo as incompletas, as resenhas, as anedotas e, pior ainda, os desenhos animados) ou serão elas interpretações da realidade a que os restantes são cegos? Aliás, é esse o âmago do episódio que, na minha opinião, é o mais impressionante em toda a obra (fora amigos que já sabem, quem adivinhar, receberá um prémio). Por outro lado, há uma série de dados fundamentais que é preciso ter em conta antes de colocar sobre a obra sentidos ou valores que se “encaixem mal”. Por exemplo, Cervantes escolheu a Mancha precisamente por não se passar lá nada. Agora é fácil construir discursos que elogiem Castilla La Mancha a partir da obra do escritor, claro, mas a escolha dele incidiu num espaço no qual jamais haveria uma escolha lógica para cenário de aventuras cavaleirescas. Depois, como no próprio livro é indicado, o patronímico de Dom Alonso, de várias grafias possíveis (Quijada, Quesada, Quejana, Quijano), não é castelhano, nem é associável a nada – independentemente das recriações posteriores -; ligar-se-á, dizem uns, à parte da armadura que protege o queixo (“queixada”), a outra parte um pouco mais a sul, asseguram outros. O importante é que não é um nome, à partida, de ressonância épica, nem heróica. Mais uma vez, não obstante o que se desejou fazer dele depois, sobretudo política e nacionalmente. Dom Quixote não é como Os Lusíadas, programado como um elogio e um canto épico, é uma obra mergulhada numa das mais subtis ironias e amores à literatura de que há memória. Daí que sejam possíveis todas as interpretações, reinterpretações, reinvenções e até sobreinterpretações (Eco), ainda assim criativamente aceitáveis (“Quixote no espaço”, mas também “Madame Bovary” ou “Pierre Ménard, autor del Quijote”).

Tal como se aplicará certamente a outras obras sob “adaptação”, face a esse poderosíssimo manancial, perante a força esmagadora dessa obra, o seu tratamento deve ser feito de uma forma confiante, directa mas reinventiva. Não se podem dar ao luxo de meramente ilustrarem um episódio, sem lhe dar nada de novo, correndo o risco da futilidade. Nesse aspecto, metade das colaborações deste livro pecam pela mera recriação das palavras de Cervantes, dando-lhes corpo gráfico, e até mesmo esse tão débil quando o corpo físico de Alonso – meras “bds”, quase feitas sob aquele signo da “adaptação passível de uso nas salas de aula”, cuja bitola obriga desde logo a simplificar e facilitar.

Vejamos, pois, a outra extremidade, aquelas que de facto atingem um ponto alto na e da banda desenhada, ainda assim com ou pelo material do Quixote. Em primeiríssimo lugar, há que apontar o trabalho de Anke Feuchtenberger (imagem 1), que mais uma vez prova que onde outros dão pontapés para o pinhal, ela descose a bola e retradu-la num tecido novo. Feuchtenberger recria todo o Quixote, plasmando-o nos seus temas particulares, numa alegoria concisa, chegando mesmo a mesclar o corpo de Don Alonso com o da sua Dulcineia (“...surge em mim o mesmo odor que parecia existir na minha doce senhora Dulcineia”), e demonstrando que as fronteiras do homem e da mulher, do humano e do animal e do objecto, da vida e da morte, não são abruptas, mas se imiscuem uns nos outros como duas substâncias viscosas. Stefano Ricci está logo a seguir, tendo eleito Rocinante como sua personagem principal, e o modo como se relaciona com a morte “de su amo”, numa espécie de curtíssima peça do teatro absurdo de um acto: é como se Rocinante, o Quixote, a sua morte na sua casa, fosse uma desculpa para falar do modo como nós, hoje, nos afastamos da experiência da morte (dos outros) – relegando-a para os hospitais, por exemplo, e não a aceitarmos como parte da nossa vida, dentro de um círculo íntimo (Micharmut tenta fazer também uma reapropriação do episódio escolhido para o transfigurar numa experiência contemporânea, mas não me parece que tenha atingido um nível feliz de criação; a analogia feita é um pouco primária).

Depois, seguem-se as adaptações competentes e que trazem prazer ao olhar, mesmo que não nos recoloquem a questão do Quixote. Nesse grupo, também restrito, apontaria a Filipe Abranches (imagem 2) e a Denis Deprez (imagem 3), tendo ambos trabalhado o mesmo episódio (v. acima) e ambos preferindo reduzir ao mínimo as informações – personagens, cenário “despido”, concentrar as imagens sobre as máscaras dos actores como se nelas residisse todo o significado da ilusão (novamente: de quem?). O despojamento de Deprez passa pelo uso da aguarela, de cinzentos disseminados, e o de Abranches é o branco intocado, o qual rima ainda com o “silêncio” de algumas das vinhetas, concentrando antes o início num complexo jogo de olhares entre as personagens, interrompendo o diálogo com o roubo do asno, e terminando como que num arco completo da acção e humor de Quixote. Outro artista igualmente interessante é Pablo Auladell, que me recorda alguns aspectos de um Markus Huber, com uma geometrização absurda dos corpos, e condensando redondamente o episódio do Clavileño, o cavalo de pau, o qual termina (aqui) precisamente numa das frases que sublinha para quem tem olhos de ver a grande questão do livro de Cervantes – quem se ilude com o quê?

Algumas das restantes participações conseguem ser prazenteiras até certo ponto, mas algo desiludidas em relação a trabalhos anteriores dos autores mais conhecidos (Max, Miguelanxo Prado) ou curiosas superficialmente mas pouco mais dos menos famosos (Carlos Nine, Jorge González). Outras não são mais do que exercícios de redução gráfica, infelizmente. Ainda assim, a convivência de todos estes trabalhos pode ser fruto de uma concessão (livro apoiado por uma instituição política, discursos sob uma vontade de elogio de La Mancha, em contrário do profundo significado de Cervantes), e não deixa de ser um exercício salutar de edição, também pela qualidade geral atingida, e que podia ser entre nós imitado, já que as experiências locais/camarárias, afora um ou dois exemplos felizes de livros ilustrados por um artista, não se têm verificado da melhor forma. E não se deve à falta de “Quixotes”...

do site português Ler BD

Pausa para a boa música: Alberta Hunter, a sublime diva do Jazz

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Homem desafia a Deus


A Editora Arx acaba de lançar no Brasil uma fantástica adaptação do romance “Frankenstein”, um dos maiores clássicos da literatura mundial (seguramente uma das histórias mais marcantes da literatura de terror, ao lado de Drácula de Bram Stocker), escrito em 1816 pela britânica Mary Shelley. O livro integra uma coleção lançada originalmente pela editora espanhola Parramón e que inclui outros clássicos, como: “Relatos de Poe”, baseado em contos fantásticos de Edgar Alan Poe e “Cuna de cuervos”, adaptado a partir de um conto da escritora espanhola Maria Zaragoza.

A história de Frankenstein já é amplamente conhecida e já foi adaptada para cinema, teatro e até desenhos animados. O cientista Victor Frankenstein, atormentado pela morte da mãe, decide dedicar todo sua engenhosidade a vencer o maior de todos os inimigos da humanidade: a morte. Depois de anos de estudos e dedicação insana, o médico alcança seu objetivo e consegue trazer um cadáver de volta à vida. Mas os resultados se mostram trágicos.

Essa versão de Frankenstein, realizada pelo desenhista espanhol, Meritxell Ribas e pelo escritor, também espanhol, Sergio Sierra, mostra uma perfeita harmonia entre roteiro e concepção gráfica. Ribas usa uma técnica que se assemelha à litografia, imprimindo um efeito ainda mais sombrio à história. O roteirista Sergio Sierra, por sua vez, conduziu a edição do texto original com maestria, preservando a perspectiva do original de Mary Shelley, onde a trama é narrada na primeira pessoa – pelo próprio cientista Victor Frankenstein.


No site que os dois autores mantém na internet para divulgação do livro eles postaram um comentário sobre a recém lançada edição brasileira:

"Esta semana Meri e eu tivemos a grata surpresa de conhecer finalmente a edição do nosso "Frankenstein, o moderno Prometeo" para o Brasil. Estamos muito contentes, sem nenhuma dúvida. Sobre o resultado da edição seguimos com a mesma sensação amarga das versões anteriores. Por um lado, o resultado das páginas melhorou consideravelmente e desta vez se fez justiça ao trabalho de Meri, permitindo que muitos dos detalhes que na edição francesa e espanhola se perderam, aqui possa ser apreciado.


Por outro lado, apesar de se ter optado por uma versão em cartoné, o desenho da página é o mesmo da edição espanhola, com a resssalva que a imagem não estão bem centrada e foi mal editada. Tampouco entendo porque o título completo da obra foi simplificado e em lugar de "Frankenstein o Moderno Prometeo", que aparece na capa interna das edições espanhola e francesa, a brasileira põe apenas "Frankenstein" . Esperamos que as críticas brasileiras não tardem a aparecer e sejam tão positivas como as críticas que recebemos na França e Espanha.


Bom, no que depender deste blog, os autores podem dormir sossegados. Sua versão para o romance de Mary Shelley é muito superior à outra adaptação recém lançada no Brasil, pela editora Salamandra, do artista francês Marion Mousse. Também não é exagero afirmar que o trabalho de Sierra e Ribas figura entre as melhores adaptações literarárias que já tive a chance de conhecer, como: Em Busca do Tempo Perdido, adaptação do clássico de Marcel Proust pelo artista Stéphane Heut, a saga do Capitão Alatriste (clássico da moderna literatura espanhola), adaptado por Joan Mundet ou ainda a versão de Peter Kuper para A Metamorfose, de Kafka.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Rei em quadrinhos


Uma HQ vai abordar a trajetória do cantor Elvis Presley e seu impacto na cultura pop. Chamada simplesmente de "Elvis", a obra é roteirizada pelos quadrinistas alemães Titus Ackermann e Reinhard Kleist.

No livro, a vida do “Rei do Rock” é dividida em dez capítulos que trazem detalhes de suas vivências. Estão contemplados o início do sucesso, a participação em produções hollywoodianas e sua decadência aos 40 anos que culminou com sua morte.

Cada uma das partes é ilustrada por diferentes artistas europeus. Kleist é responsável por dois episódios. Os outros estão divididos entre quadrinistas como Nic Klein, Uli Oesterle, Isabel Kreitz e Thomas von Kummant. Já Titus Ackermann faz um trabalho com ilustrações que remetem à fotos históricas do astro.

Publicada na Alemanha em 2007, a HQ "Elvis" tem lançamento previsto para o dia 31 de julho no Brasil.


(do site da BAND)

domingo, 25 de julho de 2010

O Fotógrafo. Uma apaixonante história sobre os Médicos Sem Fronteiras


O Afeganistão é um pequeno e pobre país encravado entre a Ásia e o Oriente Médio. Em toda sua história, o povo daquele país nunca conheceu um período de paz. As guerras são parte do presente e do passado do país. É neste território dominado por montanhas íngremes e desérticas, pela fome, pela ignorância e pela violência, que a organização Médicos Sem Fronteiras tem realizado nas últimas décadas um dos seus trabalhos mais marcantes em defesa da vida.

Apesar de extremamente pobre, o Afeganistão tem estado presente no noticiário internacional nas últimas três décadas de forma quase ininterrupta. Entre 1979 e 1989 o país enfrentou uma guerra sangrenta contra a União Soviética. Estima-se que as tropas russas chegaram a reunir um contingente de aproximadamente 120 mil soldados durante o período da campanha. O conflito ficou para a história como o equivalente soviético à derrota americana no Vietnã. Diversos historiadores, inclusive, afirmam que as enormes despesas com a guerra foram fator determinante para o desmantelamento do bloco soviético. Com a retirada do exército russo, o país enfrentou anos de guerra civil, que deixou um saldo superior a um milhão e mortos. A primeira década do século XXI marcaria o início da dominação de uma nova superpotência: os Estados Unidos.
O resultado dos sucessivos conflitos é uma população doente e desassistida. A violência e a intolerância praticamente destruíram o já frágil sistema de saúde deixando apenas poucos hospitais atuando de forma precária nas capitais das principais províncias. Para terem acesso a qualquer tipo de atendimento, os afegãos precisam se arriscar em viagens de milhares de quilômetros em zona de guerra. Por isso, a maioria das pessoas que precisam de atendimento acaba morrendo antes de chegar a um posto médico.

Ao longo de todo esse período, os Médicos Sem Fronteiras estiveram presentes no Afeganistão oferecendo atendimento em hospitais e postos avançados em plenas montanhas. O único período em que a organização esteve ausente do país se deu entre 2004/209, após o assassinato de cinco membros da equipe na província de Bagdhis.

Uma reportagem em fotos e quadrinhos
Em 1986, em pleno conflito soviético, a Médico Sem Fronteiras contratou o fotógrafo francês Didier Lefèvre para documentar a atividade da organização no país. Na época a MSF realizava caravanas clandestinas cruzando ilegalmente a fronteiras entre Paquistão e Afeganistão para levar atendimento aos povoados mais distantes da capital Cabul. Médicos e cirurgiões atravessavam quilômetros de desfiladeiros e territórios minados carregando medicamentos e equipamentos em lombos de burros e cavalos.

O resultado da viagem de três meses de Didier ao Afeganistão está reproduzido em uma série de três livros que começaram a ser lançados no Brasil pela Conrad Editora em 2006 e chegam agora ao último volume. Didier faz um relato pessoal e detalhista de tudo o que ele vê e descobre em sua viagem. Os atendimentos médicos, as diferenças culturais, os perigos da viagem... nada passa despercebido do olhar do autor. Ao final, nós temos a oportunidade de aprender não somente sobre a atuação dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, como sobre uma cultura tão complexa e diferente da nossa. Didier aborda as relações de gênero, as difíceis cirurgias feitas sob condições adversas, as belezas surpreendentes do país ainda em guerra, as diferenças religiosas...

“O Fotógrafo” usa a fusão entre fotos e quadrinhos para compor a história. Os desenhos estão a cargo de Emmanuel Guibert, um destacado artista francês que já foi objeto de outro post aqui no Nona Arte (A Guerra de Alan).

Uma grande história, um excelente roteiro e grandes imagens fazem de “O Fotógrafo” um trabalho memorável que entra para a história como um dos mais importantes relatos já produzidos em quadrinhos no mundo. Pena que os aficionados por quadrinhos no Brasil tivessem de esperar quatro anos pela conclusão da história...

O Afeganistão hoje
O site oficial dos Médicos Sem Fronteiras informa que “infelizmente, conforme as necessidades aumentam, se torna cada vez mais difícil para organizações de ajuda neutras e imparciais convencerem todas as partes envolvidas que seu único objetivo é levar ajuda. A distinção que já foi clara entre exércitos, atividades de reconstrução e desenvolvimento e ajuda humanitária se tornou confusa a partir do momento em que ajuda médica se tornou parte do campo de batalha: forças de coalizão internacional cooptaram assistência para iniciativas de “corações e mentes”, ocuparam hospitais e prenderam pacientes em suas camas enquanto grupos armados de oposição fizeram de trabalhadores humanitários e estruturas de saúde alvos por causa da presença de forças internacionais. Para ser aceita por todas as partes envolvidas no conflito, uma organização médica como MSF deve demonstrar, e comunicar claramente, completa imparcialidade, neutralidade e independência, por exemplo, não tomando nenhum partido no conflito, se recusando a aceitar fundos de qualquer governo que trabalhe no Afeganistão e no Paquistão e assegurando que nenhuma força militar, sejam elas nacionais, internacionais ou de oposição, entre no hospital com suas armas.”
Para saber mais sobre os Médicos Sem Fronteiras ou ajudar a organização, acesse o site oficial da organização


Confira um filme de divulgação do terceiro e último volume da série

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Calvin e Haroldo em movimento

Vale a pena conferir estes curtas feitos pelo jovem cineasta francês Kevin Cienki, e pelo italiano Donato DiCarlos, a partir de histórias de Calvin e Haroldo.

O caso dos biscoitos desaparecidos



Meus Pais e Eu


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Warner lança versão em quadrinhos de novo filme de DiCaprio

 
Os estúdios Warner Bros. lançaram na terça-feira (13) na internet uma história em quadrinhos que ajuda a entender o início da trama de 'A origem', suspense dirigido por Christopher Nolan e estrelado por Leonardo DiCaprio.

Os quadrinhos contam um episódio que antecede a ação do filme - que narra a história de um espião que tem a habilidade de invadir sonhos de outras pessoas e roubar seus segredos. A HQ pode ser baixada no site oficial do filme.

'A origem', longa futurista recheado de ação e efeitos especiais, estreia no Brasil em 6 de agosto e traz, além de DiCaprio, Ellen Page, Michael Caine e Marion Cotillard no elenco.

(publicada no G1)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Morre Harvey Pekar

 

Foi encontrado morto em sua casa, hoje, nos Estados Unidos, o escritor de histórias em quadrinhos Harvey Pekar, de 70 anos. Ele era o autor da série "American Splendor", que deu origem ao filme "Anti-herói Americano", em 2003, com Paul Giamatti. Autoridades foram chamadas à casa de Pekar no subúrbio de Cleveland pela mulher do autor, por volta da 1h (hora local), informou o capitão da polícia Michael Cannon. O corpo foi encontrado na cama.

Pekar vinha sofrendo de câncer de próstata, pressão alta e depressão, segundo Cannon. O artista havia ido para a cama às 16h30 de domingo, sentindo-se bem, segundo a mulher dele. Um porta-voz do escritório do juiz investigador do condado disse que uma autópsia deve ser realizada. O funcionário afirmou que ainda não foi determinada a causa da morte.

Os quadrinhos de "American Splendor", que começaram a ser publicados em 1976, traziam reclamações de Pekar sobre temas como trabalho, dinheiro e a monotonia da vida. Os comentários inusitados tornaram a obra um cult, por seus insights de humor e um toque politicamente incorreto.

Em 2003, o Círculo de Críticos de Filmes de Nova York considerou "Anti-herói Americano" como melhor filme de diretor estreante, prêmio dado à dupla de diretores e roteiristas Shari Springer Berman e Robert Pulcini. Em parte representado e em parte um documentário, com elementos animados adicionados, o filme trazia como ator principal Giamatti, no papel do outsider Pekar.

Em 1997, Pekar disse que não pretendia parar de escrever a série "American Splendor". "Não há fim à vista para mim. Eu quero continuar a fazer isso", afirmou o artista. "É uma autobiografia contínua, o trabalho de uma vida."

Confira um trailer do filme:

domingo, 11 de julho de 2010

O paradoxo estendido na areia


O livro cachalote do escritor Daniel Galera e do desenhista Rafael Coutinho é um dos romances gráficos mais ambiciosos já lançados no Brasil. Com 320 páginas não numeradas, Cachalote revela um artista maduro – Rafael Coutinho (filho do desenhista Laerte) e confirma o bom momento de Daniel Galera, com vários prêmios literários e trabalhos publicados no Brasil, Itália e Portugal. Entretanto, Cachalote não é fácil de rotular ou explicar.

Seis histórias se alternam, sem se cruzarem. Personagens perdidos, como náufragos se agarrando em pedaços escorregadios de gelo: um escultor obcecado por sua arte, um playboy arrogante e mimado que é expulso de casa, um jovem sádico e sua namorada que parece feita de vidro, um ator chinês decadente, um escritor que se recupera de uma dependência química e uma mulher idosa e surpreendentemente grávida.

A cachalote, que surge em apenas três passagens do livro, parece apontar ao leitor – de forma concreta – o absurdo, o contraditório e o fantástico da vida comum. Os personagens construídos por Daniel Galera não são ruins, mas o fato é que ele não consegue extrair o melhor deles. A trama, por outro lado, é instigante. Consegue deixa o leitor ávido pela solução final... Por saber até onde os personagens irão... Aqui reside o principal problema do livro: ao meu ver, Daniel Galera não consegue levar a tensão e o clímax da história a um bom termo. Esta talvez seja a explicação para uma sensação de incompletude e desconforto que toma o leitor ao final de Cachalote.

Mas não é o roteiro que faz de Cachalote uma obra imperdível, mas a arte de Rafael Coutinho. O desenhista conseguiu alcançar um nível de domínio da linguagem narrativa que o coloca no nível dos melhores artistas internacionais.

Confira abaixo uma entrevista dos autores para a revista eletrônica - Cyberfam - da PUC Gaúcha.

sábado, 10 de julho de 2010

Uma pausa para a boa música

Este curta de animação traz uma versão bem humorada para o clássico My baby just cares for me, da deusa do jazz Nina Simone. Confira

Nova história de Joe Sacco


O jornal inglês The Gardian publicou recentemente uma história de Joe Sacco ainda inédita em livro. Nela o jornalista volta ao seu país (Malta) para falar sobre a história dos imigrantes africanos que chegam à ilha fugindo das guerras e da pobreza no continente, em busca da sonhada europa. Clique aqui para acessar as páginas.

(do Blog Entrecomics)

Diário de Anne Frank vira história em quadrinhos



O Museu Anne Frank, em Amsterdã (Holanda), lançou nesta sexta-feira uma versão em quadrinhos do célebre diário escrito por uma adolescente que se tornou o documento mais conhecido sobre o Holocausto.

Annelies Marie "Anne" Frank (1929-1945) nasceu em Frankfurt (Alemanha) e morava na capital da Holanda quando o país foi invadido pelos nazistas.

Judia, durante meses a família Frank conseguiu viver escondida em uma casa em Amsterdã até ser denunciada e deportada para um campo de concentração. A garota relatou todo o drama — da vida reclusa ao horror da prisão — em uma série de diários.

Anne e sua irmã Margot morreram em março de 1945, vítimas de tifo, aos 15 e 19 anos, respectivamente, no campo de concentração de Bergen-Belsen, poucas semanas antes de sua libertação pelo exército britânico.

Best-seller
Annemarie Bekker, porta-voz do Museu Anne Frank (que funciona na casa onde a família se escondeu), disse que a versão em quadrinhos quer chegar aos jovens que, caso contrário, poderiam não ter acesso aos diários da menina.

Publicado pela primeira vez em 1947, o Diário de Anne Frank, relato simbólico da perseguição dos judeus pelos nazistas, foi traduzido desde então para 70 idiomas. Mais de 35 milhões de exemplares foram vendidos no mundo. Em 1959, Hollywood o adaptou ao cinema, com a atriz Millie Perkins no papel de Anne.

A versão para os quadrinhos do diário foi feita por Sid Jacobson e Ernie Colón, que assinam a adaptação no formato HQ para os relatórios dos atentados de 11 de setembro.

O livro deverá ser lançado ainda este mês nos Estados Unidos e em breve na Inglaterra. Traduções para o alemão, francês e italiano foram planejadas.

O museu colocou em seu canal no YouTube uma animação dos quadrinhos:


(publicada no jornal Diário Catarinense)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Quadrinhos e denúncia


A fusão entre quadrinhos e internet tem resultado em projetos que estão revolucionando o cenário mundial das artes e principalmente do jornalismo. Há diversos sites na web que têm servido de plataforma para histórias que revelam os bastidores de acontecimentos recentes da política internacional. Dois exemplos desses portais são o Zarah´s Paradise e o Archomix.

O site Archomix foi criado em 2008 pelo americano Dan Archer e está voltado a oferecer ao público uma nova perspectiva sobre temas da política externa e interna dos Estados Unidos e ``dar voz àqueles que, de outro modo não poderiam ser ouvidos´´. Entre as diversas histórias disponibilizadas no site os leitores podem encontrar quadrinhos sobre as desventuras de mendigos nas ruas de Lagos (Nigéria), o envolvimento dos Estados Unidos no golpe contra Salvador Allende no Chile, a exploração do trabalho escravo de agricultores da América Central em fazendas de tomate da rede Burger King na Flórida ou ainda o recente golpe de estado em Honduras. Essa última história ganhou uma versão impressa que pode ser adquirida por meio do próprio site por apenas cinco dólares.

Assim como o jornalista Joe Sacco, o quadrinista Dan Archer não hesita em fazer suas escolhas. No caso do golpe de estado em Honduras ele claramente defende o ex-presidente Manuel Zelaya. O artista tem construído uma rede de articulações e já conseguiu traduzir suas histórias para diferentes idiomas, incluindo japonês. Recentemente Archer iniciou uma colaboração com uma lenda dos quadrinhos americanos Havery Pekar e tem desenvolvido uma história sobre a cultura e a literatura dos judeus que viveram no leste europeu.


Perseguição em Teerã

Outro site que tem utilizado a linguagem dos quadrinhos para contar histórias verdadeiras e fazer denúncias políticas é o Zahara´s Paradise. O site é resultado da inusitada reunião entre um escritor persa, um artista árabe e um editor judeu. Suas identidades são mantidas em anonimato para evitar perseguições políticas.
A história une ficção e realidade para denunciar os desrespeitos aos direitos humanos e políticos do povo iraniano a partir da eleição de 2009, que foi denunciada internacionalmente como uma fraude. Uma mãe busca desesperadamente notícias sobre o filho ativista desaparecido após os protestos que tomaram Teerã. O jovem Mehdi some sem deixar vestígios. Em nenhum dos lugares pelos quais sua mãe e seu irmão peregrinam há qualquer notícia que permita levar ao seu paradeiro.

O autor da história, que usa o pseudônimo de Amir, tem descendência americana e iraniana e é jornalista, documentarista e militante dos direitos humanos. Já o ilustrador, que usa o nome de Khalil tem um trabalho reconhecido internacionalmente. Zahra´s Paradise é sua primeira graphic novel.

Zahra´s Paradise está disponível no site em inglês, farsi, árabe, francês, italiano, espanhol, português e deve ganhar versões em outros idiomas em breve. O projeto tem despertado a atenção da mídia internacional e já foi destaque em jornais e revistas internacionais, como a alemã Der Spiegel, a inglesa The Economist ou o jornal brasileiro Folha de S.Paulo.

Folhetim 

Zahra´s Paradise é publicada em formato de folhetim. Todas segundas, quartas e sextas uma nova página é lançada no site. Até o dia nove de julho, já haviam sido publicadas 66 páginas da história. A história revela a ocorrência de prisões ilegais ocorridas dentro de hospitais, onde até mesmo manifestantes feridos foram levados pela polícia política iraniana.



Uma das páginas está dedicada a Neda Agha Soltan, a jovem iraniana assassinada em junho de 2009 durante uma passeata e que ser tornou mártir e símbolo da resistência contra a violência da polícia iraniana. A morte de Neda foi registrada em vídeo e massificada através de blogs no mundo inteiro.

Assista a um filme de animação que conta os últimos momente de vida de Neda.