domingo, 27 de fevereiro de 2011

A saga do descobrimento do Amazonas


Um mundo desconhecido. Culturas completamente diferentes, temperaturas terrivelmente altas, doenças, insetos... Durante seis anos o navegador espanhol Francisco Orellana e sua tripulação exploraram os rios da bacia amazônica e escreveram um dos momentos mais importantes na história dos grandes descobrimentos: a primeira viagem ao longo de toda a extensão do rio Amazonas, da sua nascente à foz.

O ano de 2011 marca os quinhentos anos do nascimento do navegador e está sendo objeto de grandes comemorações na Espanha. Como parte das celebrações, o Centro Extremeño de Estudios y Cooperación con Iberoamérica acaba de lançar o livro Navio de Tuertos, do artista Fermín Solís, que relata a história de Orellana durante o período em que navegou o ´´Rio-Mar´´.  O livro é o primeiro volume de uma série que pretende revisitar os grandes acontecimentos da história das navegações para estudantes das escolas espanholas.

Fermín é um jovem artista espanhol, vencedor de prêmios como ´´Prêmio Nacional de Comic´´ ou o Salão de Comic de Barcelona. Seu trabalho lembra imediatamente dois artistas brasileiros: Caco Galhardo e Fido Nesti. Um traço claro, simples e um tanto cômico. Fermín diz que sua intenção era fazer uma obra acessível a diferentes públicos... em especial crianças e adolescentes.

O Nona Arte recebeu do Centro Extremeño um exemplar de Navio de Tuertos para avaliação. A obra resulta em um excelente trabalho, considerando o propósito ao qual a série está destinada. O artista espanhol revela muita familiaridade com a narrativa gráfica. O enredo é bem construído e Fermín consegue superar o seu maior desafio, que é conseguir contar uma história fantástica e cheia de aventuras em pouco mais de 60 páginas. Outro feito alcançado por Navio de Tuertos é o de ser um trabalho voltado para estudantes, mas sem o ranço de ser uma ´´obra didática´´, onde muitas vezes encontramos narrativas extremamente formais e pouca criatividade. Confira uma entrevista coletiva do artista e dos coordenadores da série concedida a uma TV espanhola.



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Arte contra canhões

Esta excelente dica vem da amiga e leitora do Nona Arte, Cristina Carvalho: O Filme Joyeux Noël, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2005, relata um episódio fantástico e real que ocorreu durante o natal de 1914, onde soldados alemães, franceses e britânicos cessaram por um momento as hostilidades e se confraternizaram.

Eu já havia feito referência a esse acontecimento o escrever sobre o livro "Às Inimigo" de George Pratt. Os mais antigos vão lembrar de um clip de Paul MacCartney dos anos 80 onde o próprio beatle interpreta, ao mesmo tempo, um oficial alemão e um inglês que trocam fotos e brindam no dia do natal enquanto os soldados disputam uma improvisada partida de futebol.

Pois bem, a história era verdadeira. E aconteceu em diversos pontos do front, não apenas em 1914, mas se repetiu em 1915. Relatos sobre estas confraternizações foram encontradas em cartas escritas por soldados dos dois lados em conflito e "censuradas" pelos oficiais...

Depois de ter a chance de assistir ao filme, não poderia deixar de indicá-lo aos outros leitores do Nona Arte. O filme é imperdível.

Não deixe de conferir outros posts sobre a Primeira Guerra em: A mãe de todas as guerras ou Inferno nas Trincheiras

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Liniers em talk show


O artista argentino Liniers faz um animadíssimo talk show sobre novas tecnologias... Ele se auto-define com o último ser humano que não sabe usar um computador...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A vida no Iran




A artista iraniana Marjane Satrapi, autora do premiado “Persépolis” abriu os caminhos para que os quadrinistas do oriente médio – em especial as mulheres – pudessem conquistar seu espaço no mercado editorial dos comics adultos.

Aqui mesmo no Nona Arte já comentamos os trabalhos da própria Marjane Satrapi, de Zeina Abirached ou o site dedicado aos conflitos no Irã após as eleições fraudulentas que resultaram na vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Trabalhos inovadores, criativos e que jogaram um pouco mais de luz sobre o desconhecido mundo muçulmano.

Tudo começou com Marjane em 2000 com o lançamento de Persépolis na França. A artista foi também uma das precursoras dos romances gráficos de caráter biográfico que se tornaram uma febre ao longo da década passada. De lá para cá, dezenas de trabalhos bons e maus chegaram ao mercado e acabaram saturando a fórmula...

Seguindo os caminhos já pavimentados, outra artista iraniana resolveu revisitar sua trajetória em um romance gráfico. Parsua Bashi tem uma trajetória bastante semelhante à de Marjane Satrapi: a adolescência vivida em um país com cada vez menos liberdades individuais,as restrições religiosas, o “auto-exílio” no exterior, os conflitos cuturais... Aliás, no seu livro, Parsua faz uma referência explícita a Marjane.

Parsua Bashi nasceu em 1966 em Teerã e cursou a faculdade de Artes entre 1984 e 1989. Desde 1996 ela tem trabalhado como designer para várias editoras iranianas além de produtores culturais nas áreas de cinema, teatro, festivais e concertos. A artista tem atuado continuamente em projetos voltados a publicações de outras autoras iranianas.

Comparado ao trabalho de Satrapi, a obra de Parsua soa pouco inovadora e previsível. Seu traço tem bastante comicidade, mas ela usa textos em demasia e não explora os recursos possíveis da narrativa gráfica. Algo que Marjane e a libanesa Zeina Abirached fazem com maestria... Entretanto, Nylon Road é uma obra válida para quem quer conhecer um pouco melhor a história recente do Irã pelos olhos de uma testemunha real.


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um Espião de Stalin no Japão


 A história está repleta de casos onde apenas um homem foi capaz de mudar os destinos de toda a humanidade. Alguns deles serão eternamente lembrados. Outros, estão relegados a um papel secundário e – não raro – são completamente esquecidos. O espião russo Richard Sorge é apontado como o maior responsável por um acontecimento que mudaria definitivamente o resultado da Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, foi quase completamente e apagado da história pela ditadura stalinista.

Foi Sorge que transmitiu a Stalin a informação de que o Japão não atacaria a União Soviética, permitindo o deslocamento das tropas do Exército Vermelho estacionadas na Sibéria para conter o avanço de Hitler no front europeu. Sorge acabou preso pela polícia secreta japonesa e enforcado por espionagem em novembro de 1941. Mas o seu trabalho seria determinante para alterar o cenário global da guerra colocando o jogo a favor dos exércitos aliados.

A premiada artista alemã, Isabel Kreitz, lançou em 2008 um romance gráfico que resgata para a opinião pública mundial a figura de Richard Sorge, considerado como um dos mais importantes espiões da história. Para se ter uma idéia da importância de Sorge, basta dizer que o escritor Ian Fleming, criador do personagem 007, aponta o russo como um dos mais formidáveis espiões de todos os tempos.

O  livro de Isabel Kreitz relembra os últimos meses de vida de Sorge no Japão, a partir dos testemunhos de homens e mulheres que conviveram com ele em Tóquio enquanto o espião repassava informações secretas sobre os movimentos das tropas alemãs e japonesas para Moscou. Para concretizar seu projeto, Isabel realizou amplas pesquisas sobre o cenário de Tóquio nos anos 30. Além disso, ela levantou documentos da época e resgatou entrevistas antigas concedidas por personagens já falecidos.

Apesar de uma longa e sólida militância junto ao partido comunista alemão e de passagens pela Rússia para estudos marxistas, Sorge conseguiu conquistar a confiança de funcionários do alto escalão do governo japonês e do próprio embaixador alemão em Tóquio. Para isso, foi valioso um ferimento de guerra e uma medalha Cruz de Ferro, “adquiridos” durante sua passagem – ainda na juventude – pelo exército alemão na Primeira Guerra.

Stalin ignora os avisos – Apesar do risco constante de morte, o trabalho de Sorge não teve sempre, por parte do ditador russo, a devida atenção. Em 1941 ele transmitiu dados precisos sobre os planos de Hitler de invadir a Rússia (ação que ficou conhecida como Operação Barbarossa). Na época, a Alemanha tinha um tratado de não agressão com o governo russo e Stalin não acreditava que Hitler abriria uma nova frente de batalha em uma guerra que já colocava os exércitos alemães em confronto com países na Europa e África. Se as informações do espião tivessem sido consideradas, a Rússia poderia ter evitado a invasão alemã e mudado os rumos da guerra..

Documentos russos da época revelam que as atitudes extravagantes e exageradas de Richard Sorge geraram desconfiança sobre a confiabilidade das suas informações. Paradoxalmente, o mesmo comportamento que lhe servia de disfarce também o colocou em descrédito. Sorge era conhecido por bebedeiras eméritas, pela boemia e pela fama de mulherengo...

Depois de que Sorge foi preso pela polícia secreta japonesa, o Governo de Stalin teve oportunidades de resgatar o seu espião por meio de trocas de prisioneiros. Mas os russos nunca fizeram nenhum movimento efetivo para libertá-lo. Acredita-se que Stalin tenha querido esconder a existência de Sorge para fugir ao vexame de ter tido a oportunidade de barrar a invasão alemã quando teve oportunidade e não ter feito nenhum movimento em contrário. Durante décadas o governo russo sequer reconhecia a morte do espião e difundiu histórias de que Sorge teria fugido para a União Soviética após a Guerra. 

Uma boa história. Um livro... – O romance gráfico de Isabel Kreitz tem um grande mérito e alguns pontos negativos. O indiscutível ponto a favor é o fato de trazer a público a história de Sorge. Entretanto, há vários problemas no livro... O primeiro é o traço de Isabel. A artista alcança um bom resultado na reconstituição arquitetônica de ruas e prédios, mas é sofrível ao representar figuras humanas. Em certas passagens, chega a ser bastante difícil identificar os personagens... O segundo revés é o próprio roteiro. Isabel faz uma história previsível, burocrática, muito aquém das possibilidades que a trama poderia proporcionar... Por último, a concepção gráfica da narrativa também frustra. Diferente de outras histórias já comentadas aqui no Nona Arte (inclusive sobre a II Guerra), o livro também é muito convencional neste aspecto. Isabel usa o enquadramento comum e também divide o espaço da página de forma habitual.

É uma pena que a história de Sorge não tenha um romance gráfico à altura. Mas, de todo modo, fica a dica. Quem tiver a possibilidade de ter um exemplar do livro à mão pode tirar suas próprias conclusões... Por enquanto, já que o livro ainda não está disponível no Brasil, vale a pena conferir um trecho de um filme produzido no Japão sobre a história do espião que ajudou a derrotar Hitler.