domingo, 11 de julho de 2010

O paradoxo estendido na areia


O livro cachalote do escritor Daniel Galera e do desenhista Rafael Coutinho é um dos romances gráficos mais ambiciosos já lançados no Brasil. Com 320 páginas não numeradas, Cachalote revela um artista maduro – Rafael Coutinho (filho do desenhista Laerte) e confirma o bom momento de Daniel Galera, com vários prêmios literários e trabalhos publicados no Brasil, Itália e Portugal. Entretanto, Cachalote não é fácil de rotular ou explicar.

Seis histórias se alternam, sem se cruzarem. Personagens perdidos, como náufragos se agarrando em pedaços escorregadios de gelo: um escultor obcecado por sua arte, um playboy arrogante e mimado que é expulso de casa, um jovem sádico e sua namorada que parece feita de vidro, um ator chinês decadente, um escritor que se recupera de uma dependência química e uma mulher idosa e surpreendentemente grávida.

A cachalote, que surge em apenas três passagens do livro, parece apontar ao leitor – de forma concreta – o absurdo, o contraditório e o fantástico da vida comum. Os personagens construídos por Daniel Galera não são ruins, mas o fato é que ele não consegue extrair o melhor deles. A trama, por outro lado, é instigante. Consegue deixa o leitor ávido pela solução final... Por saber até onde os personagens irão... Aqui reside o principal problema do livro: ao meu ver, Daniel Galera não consegue levar a tensão e o clímax da história a um bom termo. Esta talvez seja a explicação para uma sensação de incompletude e desconforto que toma o leitor ao final de Cachalote.

Mas não é o roteiro que faz de Cachalote uma obra imperdível, mas a arte de Rafael Coutinho. O desenhista conseguiu alcançar um nível de domínio da linguagem narrativa que o coloca no nível dos melhores artistas internacionais.

Confira abaixo uma entrevista dos autores para a revista eletrônica - Cyberfam - da PUC Gaúcha.

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