sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Quadrinhos africanos - Parte II

Com a ajuda de uma reportagem publicada no site de revista Raça Brasil, resgatamos as biografias de alguns dos artistas africanos que tiveram seus trabalhos expostos na mostra Picha, em São Paulo. Confira uma pequena visão de cada um dos artistas.

Farid Boudjellal - nasceu em Toulon, em 1953, de uma família argelina. Contraiu poliomielite com oito anos. Isto não o impediu de fazer seus estudos universitários, mas seu coração estava em outro lugar: nas Histórias em Quadrinhos. Sempre escrevia histórias curtas, mas passou a dedicar-se a um trabalho mais amplo: o livro L’Oud (Oud é um instrumento clássico árabe de cordas). Boudjellal mudou-se para Paris e deu início a seu próprio estúdio junto com Jose Jover e Roland Monpiere. A primeira parte de sua obra prima Petit Poilo foi publicada em 1998. É um romance todo desenhado sobre um pequeno menino chamado Mahmoud Slimani que cresce em Marselha e contrai poliomielite. Boudjellal enfrentou seus traumas infantis nesta série em que oferece a seus leitores um relance do cotidiano de um imigrante.



Hector Sonon – nasceu em Benin em 1969. Lançou-se como cartunista e ilustrador no primeiro jornal diário do país, La Gazette du Golfe (A Gazeta do Golfo). Ele publicou suas primeiras páginas no jornal satírico Le Cafard Enchainé (O delator acorrentado). Seu primeiro álbum de Histórias em Quadrinhos, ‘Zinsou et Sagbo” foi direcionado para jovens e publicado em 1990. Durante anos, Sonon ilustrou muitos livros infantis. Em 1997, seu trabalho e o do desenhista Yvan Alagbe foram exibidos no Festival de Quadrinhos, Stripdagen em Haarlem, Holanda. Sonon também contribuiu para duas coleções de álbuns que ajudaram muito a difusão dos quadrinhos africanos.


Barly Baruti - nascido em 1959, na cidade de Kisangani (Congo). Criou um livro para a Corporação Técnica Belga sobre a conservação da natureza: Le temps d’agir (Tempo de agir). Mais tarde desenhou outra História em Quadrinhos de tema ecológico com o título Objectif Terre! (Objetivo Terra!) Barly Baruti estudou roteiro em Angoulême e trabalhou nos estúdios Hergé. Baruti desenhou para as revistas Kouakou e Calao, fundou um Ateliê de Iniciação à Arte, um Centro Cultural e também lançou a revista mensal Afro BD, deu aulas, publicou o álbum La voiture c’est l’aventure (O carro é a aventura), em 1987, e fez desenhos para a edição africana de ‘Ppa Wemba: Viva la musica!’. Criou a famosa trilogia “Eva K” com o roteirista Frank Giroud, também já publicado na Holanda. Atualmente está trabalhando com o roteirista francês Alain Brezault em um quadrinho de ficção cientifica e criou o pôster e o logotipo para a exposição Picha.


Pat Masioni - nasceu no sul do Congo, em 1961. Estudou Artes na Academia de Kinshasa e tornou-se ilustrador desde 1985 em uma editora. Seus álbuns foram distribuídos para todas as paróquias católicas do país. Masioni foi diretor artístico em três edições do Festival de Histórias em Quadrinhos em Kinshasa. Ele foi forçado a fugir de seu país por causa de suas ferozes charges anti-governamentais e atualmente vive em Paris. Em 2005, ganhou fama internacional pela publicação de um álbum de Histórias em Quadrinhos em dois volumes sobre a guerra entre os Hutus e Tutsis em Ruanda, ocorrida em 1994. Este relato explícito da guerra em Ruanda coloca Masioni entre os grandes mestres das Histórias em Quadrinhos e Ilustração.


Patrick Essono – o artista usa pseudônimo de Pahé. Nasceu no Gabão em 1979. No Primário já fazia desenhos nas paredes da escola. Mudou-se com sua família para a França. O jovem Patrick ficou surpreso ao descobrir costumes e hábitos tão diversos, e retratou-os com humor saboroso na primeira parte de seu livro: La vie de Pahé (A vida de Pahé). Ele escreve: “Meu país é rico em petróleo…É por isso que está cheio de favelas.” O estilo humorístico de seus desenhos foi influenciado pela revista francesa Hara-Kiri e por um de seus fundadores, o desenhista Jean-Marc Reiser. Em 2006, Pahé ganhou o primeiro prêmio na categoria charge no Terceiro Salão Africano do Livro, em Genebra.



Ramón Esono Ebalé - é conhecido pelo pseudônimo de Ramon y Queso. Este nome é um jogo de palavras: presunto e queijo em espanhol. Quando Ebalé tinha oito anos, seus pais o colocaram em uma escola espanhola onde aprendeu a desenhar, a pintar e a esculpir, e provavelmente, onde adquiriu também seu apelido. Mais tarde, começou sua carreira nos quadrinhos sempre muito bem sucedida. Ebalé publicou em vários jornais e revistas da Guiné Equatorial mesmo quando submetidos a uma censura severa. Ebalé trabalha para o Centro Cultural Espanhol e Francês, para uma companhia americana e é ilustrador do UNICEF. Nos últimos anos, tem trabalhado para lançar Para-Jaka, a primeira revista africana online de quadrinhos. Em 2006 realizou uma exposição no Festival de Angoulême, na França.


Adjim Danngar - nasceu no Chade, em 1982. Sob o pseudônimo de Achou, participou de vários concursos internacionais de Histórias em Quadrinhos e obteve o segundo prêmio na 10º Mostra do Mercato del Fumetto de Torino, Itália em 2004. De 2002 a 2004, trabalhou como ilustrador para o jornal Rafigui e para a revista satírica Le Miroir. Seus quadrinhos e ilustrações foram exibidos na França no Festival Texte et Bulles de Damprai e no Centro Cultural Francês em N’Djamena, no Chade. Danngar mora em Paris e tornou-se membro da organização L’Afrique Dessinée. Junto com o desenhista italiano Marcello Toninelli, Danngar criou uma história, The plague of kings (A praga dos reis) que aborda o tema da imigração de países em desenvolvimento.



Didier Kassaï - nasceu em Sibut na República Centro-Africana em 1974. Sua carreira nas Histórias em Quadrinhos começou em 1997 quando foi trabalhar no jornal Le Perroquet. Em 1999, seu trabalho apareceu no festival Gabones Journées Africaines de la Bande Dessinée. Também contribuiu para o álbum de coleção A l’ombre du baobab (À sombra do baobá), publicado no festival de Angoulême, França. Em 2005, Kassaï criou um quadrinho educacional para o projeto Educa 2000 em Bangui. Junto com Olivier Bombasaro criou o personagem Gipépé, le pygmée (Gipepê, o pigmeu). Kassaï ganhou muitos prêmios, entre os quais o de melhor quadrinho africano não publicado em 2006 pela organização italiana Africa e Mediterraneo. Em 2007 ganhou o primeiro prêmio no Festival de Angoulême, França.


Frank Odoi - Stephen Frank Odoi nasceu em Gana há 57 anos. Hoje vive em Nairobi, capital do Quênia. Começou a trabalhar como ilustrador de livros de Medicina. Como free-lancer, desenhou para as maiores editoras educacionais em Gana e Quênia. Seus trabalhos foram publicados em diversos jornais africanos e europeus. Sua História em Quadrinhos mais famosa é Golgoti que conta a chegada dos brancos na África da perspectiva dos negros. A história inicia-se com a vinda dos missionários e dos mercenários e termina com a independência na África atual. Akokhan, seu trabalho mais recente, foi publicado em 2007. O quadrinho conta uma história mítica e sangrenta de dois arqui-inimigos: Tonkazan e Akokhan. O subtítulo More than a comic story (Mais do que um quadrinho a cômico) parece profético após a publicação. Odoi nunca poderia ter imaginado que, logo depois da publicação de seu álbum, o Quênia seria vítima de uma guerra política entre Kibaki (presidente) e Odinga (filho do primeiro vice-presidente).


Kola Fayemi – nasceu em Ile-Ife, na Nigéria, em 1957. Formou-se como ilustrador e seus trabalhos apareceram em várias publicações. Cria também os roteiros para uma novela de televisão Super Story (Super história). Fayemi participa de campanhas educacionais e ilustrou o livreto How you can combat HIV/AIDS (Como você pode combater o HIV/AIDS). Em 2006, contribuiu na exposição do Studio Museum em Harlem, Nova Iorque com sua história Monster in Khaki (Monstro em Khaki), onde chama a atenção para a violência policial em seu país. O quadrinho fala de uma jovem que vai à delegacia para tentar liberar seu irmão e, em vez disso, é estuprada pelo delegado. De acordo com um projeto de pesquisa efetuado pelo Centro de Educação para Execução da Lei, mais de um terço de todos os prisioneiros sofre alguma forma de brutalidade policial. Uma curiosidade: a cidade de Ilê-Ifé é o berço de toda a religião tradicional yoruba (a religião dos Orixás, o Candomblé do Brasil)

Bob Kanza - nasceu na República do Congo, em 1977. Imigrou para a Costa do Marfim por causa da guerra civil em 1997 e fez o curso de Informática. Em Abidjan entrou em contato com dois chargistas: Zohore Lassane e Illary Simplice que constataram seu talento para desenho e o colocaram como um dos editores de Gbich. Em seu novo emprego, Kanza aprendeu a desenhar quadrinhos, caricaturas e charges. Em abril de 2000, nasceu seu famoso personagem: Sargento Deutogo, um policial corrupto que oferece seu serviço em troca de suborno. Em conseqüência de outra Guerra Civil em 2002, Kanza mudou-se para a França. Desde 2003 vem trabalhando como ilustrador free lancer e web designer.

Mohammed Nadrani –nasceu em 1954, nas montanhas Rif (Marrocos). Quando jovem, foi ativo na associação Marxista Leninista e foi preso durante um protesto estudantil em 1976. Sua aventura artística começou quando encontrou um pedaço de carvão na sua cela e começou a desenhar, o que o levou mais tarde a publicar o álbum de Histórias em Quadrinhos Les Sarcophages du complexe (Os sarcófagos do complexo) sobre os anos da ditadura. .“Antes de encontrar o pequeno pedaço de carvão, eu trabalhava com um pincel que fiz com linhas soltas da minha calça”, escreve em seu álbum. Como tinta, usava café. Detido, Nadrani foi preso sem qualquer julgamento e solto em 1984. “Tenho muito orgulho deste álbum de Histórias em Quadrinhos que uso para desafiar as pessoas que tentaram quebrar-me por meio da tortura”.




Dwa - Eric Andrieantsialonina, ou Dwa, nasceu em 1982 na cidade de Alatsinainy Bakaro (Madagascar). Estudou economia na Universidade. Um de seus primeiros trabalhos foi Pions - sobre o menino Benja que não tem consciência de seus dons sobrenaturais, comuns na cultura de Madagascar. Dwa frequentou dois cursos de Histórias em Quadrinhos organizados por Olivier Apollo e Serge Huo Chao Si, da ilha Reunião. Participou de festivais de quadrinhos em seu país e no exterior Em 2006, vinculou-se à Kirajy Band, uma associação de ilustradores, criando a revista satírica Saringotra.

Um comentário:

  1. Com 3 anos de atraso, aqui ainda vai uma sugestao das novidades de Angola :
    OLímpio e Lindomar de Sousa : CABETULA
    http://luandacartoon.sapo.ao/cabetula.html
    http://kuentro.blogspot.pt/search/label/BD%20ANGOLANA
    E outros em www.literaturasafrikanas.blogspot.com
    Abracos

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