sábado, 6 de agosto de 2011

O inferno Noir


 
“Deixai todas as esperanças, ó vós que aqui entrais”

A célebre frase fixada nos portais do Inferno marca uma das mais importantes obras da literatura universal: A Divina Comédia, de Dante Alighieri. O livro, escrito no início do século XIV (provavelmente entre 1304 e 1321), narra a aventura do próprio Dante pelo espaço além da vida: inferno, purgatório e paraíso. Em cada diferente momento da sua jornada, o autor – guiado sempre de perto pelo poeta Virgílio – encontra personagens famosos e anônimos submetidos a todo tipo de dor e flagelo: papas, tiranos, assassinos...

O primeiro círculo infernal é o Limbo, onde permanecem todas as almas que não escolheram seguir a Cristo, mas que foram virtuosas. É lá que Dante encontra Homero, Ovídio e Horácio três dos maiores escritores da história. No segundo círculo estão os luxuriosos que, por castigo, são submetidos a uma eterna tempestade de vento. O terceiro círculo é reservado aos gulosos que são flagelados por uma chuva putrefata e vigiados pelo mitológico cão de três cabeças, Cérbero. No quarto círculo estão os avarentos empurrando pesos enormes. No quinto ficam aqueles que foram tomados pelo ódio, imersos para sempre na lama ardente do Pântano do Estige.

Ao longo de nove diferentes ciclos, Dante vai identificando todos os diferentes pecados humanos e atribuindo para cada um deles um flagelo diferente. Estão no inferno os rabugentos e taciturnos; aqueles que não acreditam na vida após a morte; os bajuladores; os hipócritas; os blasfemadores; os suicidas; os astrólogos e videntes... e uma infinidade de outros pecadores.

A riqueza de detalhes com que Dante descreve sua viagem é impressionante. Nos vários níveis do Inferno, as almas pecadoras são submetidas a castigos inimagináveis: alguns são esfaqueados por toda a eternidade; outros atacados pela sarna ou envoltos em chamas; há aqueles que são obrigados a vestir pesadas roupas feitas de chumbo e ainda os que se vêem mergulhados em excrementos humanos...

É natural que uma das mais importantes obras da literatura universal e que explorou o maior mistério da humanidade– a vida após a morte – provocasse o interesse e a curiosidade de uma legião de estudiosos, leitores e expoentes de outras artes.
No universo da pintura, há expoentes como Gustave Doré, Eugene Delacroix, Bouguereau e uma infinidade de artistas que, desde a idade média, vem tentando traduzir em imagens o fantástico mundo de Dante

Dante em quadrinhos – Mais recentemente a Divina Comédia ganhou duas novas versões. E, desta vez, em quadrinhos. O NONA ARTE comenta aqui o trabalho do ilustrador americano Seymour Chwast que acaba de chegar ao Brasil pela Companhia das letras.

Seymour é fiel ao texto de Dante, mas extremamente ousado e inovador na concepção artística do livro. Assim como Dante colocou no inferno vários contemporâneos seus, Seymour procurou introduzir modernidade em sua releitura em quadrinhos: roupas modernas, mafiosos, lanchas motorizadas... e um Dante vestido como um detetive dos filmes noir em busca da verdade sobrenatural.

A maior revolução do artista, entretanto, está no seu traço. Seymour é reconhecido mundialmente com um dos maiores artistas comerciais em atividade. Seus trabalhos estão em capas de livros, rótulos de inúmeros produtos e museus. Ele consegue sintetizar páginas inteiras em um único desenho. Neste sentido, o trabalho de Seymour está longe de “esgotar” o conteúdo da Divina Comédia, mas é uma interpretação ágil e sintética para quem quer ter um primeiro contato com a obra do mestre italiano.



Nenhum comentário:

Postar um comentário