domingo, 28 de novembro de 2010

Tintin no tribual


Um tribunal belga ouviu na última sexta-feira os argumentos expostos por um cidadão congolês e uma associação francesa que exigem a proibição da história de Banda Desenhada “Tintin no Congo”, por a considerarem racista e ofensiva em relação aos africanos.

“Não queremos que seja um julgamento contra Hergé (o autor da série de BD Tintin), mas sim contra uma época na qual o racismo estava entranhado nas mentalidades”, declarou o advogado de um dos autores da acção, citado pela agência belga. O julgamento começou a 28 de Abril, depois do processo aberto por Bienvenu Mbutu Mondondo, cidadão congolês residente na Bélgica, e o Conselho Representativo de Associações Negras (CRAN) da França.

Os autores da acção querem proibir a venda de “Tintin no Congo”, publicado em 1931, ou, pelo menos, exigir que as novas edições tenham uma advertência e um prefácio onde se explique o contexto da época.

Uma decisão a respeito é esperada para os próximos meses.

Do jornal de Angola

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bob Dylan em Quadrinhos

Do site: El Referente.es

Cuando escuchamos una canción, la que sea, recreamos mentalmente la historia que nos cuenta cada nota musical. Un amor imposible, algo trágico, el mayor sentiemiento de felicidad...cualquier situación que nos narre el artista a través de su música toma forma y cobra vida en nuestra imaginación.

Con las canciones de Bob Dylan se nos acercan ahora estas historias en forma de cómic, una idea que, sin duda, será bien recibida por los amantes de su música.

El cómic: Bob Dylan Revisited

Bob Dylan es un artista del renacimiento. Compositor, poeta, pintor… su arte se extiende a muchas otras disciplinas como demuestra su carrera, y la influencia que supone para otros creadores como fotógrafos, diseñadores, escritores, cineastas…

Por supuesto tampoco los autores de cómic son ajenos a ello, por lo que ya era hora que el noveno arte le rindiera un homenaje como es debido. BOB DYLAN REVISITED reúne 13 canciones míticas del compositor norteamericano adaptadas por 13 distintos autores de cómic. 13 versiones dibujadas para disfrutar mientras se escuchan las canciones originales, o mientras se tararean o recuerdan.

Además, la edición viene acompañada de un prólogo a cargo del periodista musical, eminente coleccionista y director de la Fira del Disc de Col·leccionista, Jordi Tardà.

LOS AUTORES

Thierry Murat adapta- Blowing in the wind


Grafista de profesión, Murat se acabó enamorando de la ilustración. Su carrera como dibujante comenzó en el mundo del libro infantil pero pronto pudo pasarse al cómic. Actualmente también dibuja para prensa y literatura juvenil.




 Lorenzo Mattotti adapta- A hard rain’s a-gonna fall


Mattotti es uno de los más grandes maestros del color en el mundo del cómic, actualmente. Natural de Italia, su particular estilo gráfico y narrativo pronto marcó un antes y un después. Es también muy conocido por su trabajo como ilustrador para NEW YORKER, LE MONDE o VANITY FAIR, entre otras.


Nicolas Nemiri adapta- I want you


Nicolas Nemiri, aunque francés, tiene un fuerte gusto por la ilustración, japonesa, algo no tan presente en su obra en cómic.

François Avril adapta-  Girl of the North Country

François Avril nació en 1961 en París. Aunque comenzó publicando ilustraciones de prensa, ha acabado trabajando para publicidad, editorial, cómics y libro infantil.

Jean-Claude Götting adapta-  Lay, lady, lay

Nace en París y es en la capital francesa donde da sus primeros pasos como dibujante de cómics. En 1986 gana el premio a Mejor Primer Álbum en el festival de Angoulême, justo antes de dedicarse principalmente a la ilustración y la pintura.




Alfred adapta- Like a rolling stone


Comienza a publicar en Delcourt pero no se casa con nadie y acaba trabajando un poco para casi todas las editoriales de cómic. Colabora en varias antologías y en 2007 publica Por qué he matado a Pierre, premio del público en Angoulême ese mismo año. Actualmente continúa explorando el mundo de la ilustración.



Christopher adapta- Positively 4th Street
Aunque nacido en Inglaterra, Christopher pasó toda su adolescencia en Aix-en-Provence. Realizó en París sus estudios de diseño gráfico y publicado en editoriales como Carabas o Dupuis.

Dave McKean adapta- Desolation row


Dave McKean es uno de los ilustradores y diseñadores gráficos más importantes y con un estilo más personal que hay en la actualidad. La fama le llegó a partir de sus muchas colaboraciones con Neil

Gradimir Smudja adapta-  Hurricane


Este dibujante y pintor nacido en Serbia, emigró en 1982 a Suiza, donde comenzó a trabajar para una galería. Fue más tarde, cuando se instaló en Italia, que comenzó su carrera como dibujante de cómics.

Con su estilo fuertemente influenciado por los pintores postimpresionista, y solo dos títulos publicados, Smudja ha conseguido hacerse un sitio en el mundo del cómic europeo.

Zep adapta-  Not dark yet

Zep nació en Suiza y es el autor del famosísimo TITEUF. El gran éxito conseguido con esta serie le ha permitido publicar otras obras más arriesgadas, con y sin Titeuf. Gran amante de la música, los diferentes

homenajes que ha hecho culminan en este volumen con la adaptación de su músico más admirado: Bob Dylan.

Benjamin Flao adapta- Blind Willie McTell


Ya a la temprana edad de 10 años, Flao podía pasarse horas dibujando. A los 14 años deja los estudios tradicionales para dedicarse de lleno al estudio de las artes gráficas. Ha estudiado todas las variantes del dibujo: ilustración, animación, cómic, graffiti… Con Christophe Dabitch publicó La línea de fuga.

Jean-Philippe Bramanti adapta- Knockin’ on Heaven’s door

Bramanti estudió Bellas Artes en Marsella y Angoulême. Fue en esta última ciudad donde conocidó a Guy Delcourt, quien se interesó por su trabajo. Está muy interesado en la vida de Winsor McCay, hasta el punto que ha dibujado su biografía en cómic.


Bézian adapta- Tombstone Blues


Bézian comenzó muy joven colaborando en varios fanzines, donde cultivó su gusto por la fantasía. Gracias a Adam Sarle ch, publicado en Humanoides en 1989, comenzó a ganar notoriedad, que culminó en 1994 cuando ganó un premio en el Festival de Angoulême.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ruanda 1994 - sangue no coração da África - Quadrinhos na África - Parte IV

Quantos assassinatos são necessários para se ter um genocídio?

Em 1994, enquanto centenas de milhares de pessoas eram trucidadas em Ruanda, diante da opinião pública mundial, os Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas discutiam nos gabinetes sobre o significado da palavra para justificar sua total omissão.

O massacre de quase toda a população da etnia tutsi do país é considerado um dos piores crimes contra a humanidade do século XX. Os números são imprecisos. Mas é certo que em apenas 100 dias, mais de 800 mil pessoas (alguns historiadores afirmam que chegam a 1 milhão de assassinatos), foram mortas de forma cruel, com armas de fogo e - em sua maioria - com facões e martelos...

O ódio que levou ao genocídio em Ruanda tem sua origem ainda no período em que o país era uma colônia belga. Para dividir a população e manter mais facilmente o domínio sobre o território, os europeus difundiram a tese de que os tutsi (mais altos, com os narizes ligeiramente mais afilados e pele mais clara) descendiam dos antigos egipcios e - por isso - eram superiores às duas outras etnias (hutus e twa).  Baseados nessa teoria, os belgas colocaram os tutsi em postos de comando, pagaram a eles melhores salários e criaram a discórdia entre comunidades que até então se entendiam perfeitamente bem. Ao longo do período colonial, os tutsi seriam acusados, em alguns momentos, de tortura e assassinato contra os hutus. Esse ódio mútuo permanceria presente até explodir em 1994, com o assassinato do presidente de Ruanda, Juvenal  Habyarimana (um hutu moderado), que governou o país durante 20 anos.  Até hoje não se sabe se o atentado que derrubou o avião presidencial foi responsabilidade dos radicais hutus ou dos rebeldes tutsi que combatiam o governo ao norte do país. De todo modo, foi o pretexto que faltava para dar início ao massacre já planejado.

Jornalistas que acompanharam o genocídio afirmam que o assassinato em massa foi preparado com antecedência. Há, inclusive, notícias da importação de milhares de facões da China, que foram distribuídos largamente entre a população hutu. O nível de violência foi tão assustador que não há praticamente na sociedade uma pessoa que não tenha tido um parente assassinado ou que tenha cometido um assassinato. Os observadores internacionais afirmam que se todas as pessoas que cometeram crimes fossem condenadas, cerca de 10% da população do país estaria na cadeia.


O Nona Arte localizou duas publicações que abordam o genocídio: Rwanda 1994, do congolês Pat Masioni e Deogratias, do belga Jean-Philippe Stassen. 


O livro de Jean Stassen ganhou o prêmio Goscinny de 2000 - considerado uma das mais importantes premiações para quadrinhos na Europa. A história é um romance com fundo histórico e conta a trajetória de um menino adolescente, dependente de álcool que vaga pelas ruas de Ruanda após o fim do massacre. O leitor é levado a conhecer a história de vida do protagonista e as razões que levaram o jovem à situação de abandono e doença. Incluindo a relação do menino, da etnia hutu, com uma garota tutsi. "Deogratias" significa - "obrigado a Deus por exisitir" - e é também o nome do personagem principal. Stassen vive atualmente em Ruanda com a familia.

Pat Masioni revelou que publicou seu primeiro desenho aos 14 anos, com ajuda de dois padres espanhóis que ajudaram sua família e apoiaram financeiramente os seus estudos. Ele estudou pintura na Academia de Kinshasa e em 1985 tornou-se o ilustrador. Não demorou muito para que se tornasse um profissional. Seus livros se tornaram sucesso de vendas e seu nome passou a ser conhecido. Principalmente com trabalhos de ilustração em livros religiosos e charges nos jornais. Anos mais tarde, como co-fundador da L'atelier ACRIA Associação, Masioni se tornou o diretor artístico de três edições do festival de quadrinhos de Kinshasa. Hoje o artista mora em Paris. Ele fugiu do Congo depois que caricaturas suas para os jornais "Le Palmares 'e' Le Gri-Gri internacional", incomodaram políticos locais.

A fama internacional, entretanto, só viria em 2005, quando Pat publicou sua revista em quadrinhos em duas partes, relatando o massacre de Ruanda. "A arte me libertou da pobreza e obscuridade, mas não demorou muito para também me trazer problemas. Ao longo de minha vida como artista em Kinshasa, República Democrática do Congo, fui preso em várias ocasiões, algumas vezes por crianças-soldados. Tenho sido espancado por meus desenhos. Tenho visto coisas que ninguém deve ver, coisas que eu nunca vou esquecer." diz Masioni. O artista fala sobre o seu trabalho: "posso me definir como um ilustrador politicamente engajado e um cidadão do mundo".

Para conhecer mais sobre a guerra civil em Ruanda eu recomendo um documentário disponível na internet, e que aborda a omissão das Nações Unidas e da opinião pública mundial que silenciou e assistiu passivamente o genocídio: os fantasmas de Ruanda, produzido pelo programa de TV americano "Frontline".

sábado, 13 de novembro de 2010

Beirute: A guerra e o cotidiano


O que fazem as pessoas de uma cidade mergulhada em anos de guerra civil? Como vivem? Que fazem no seu dia-dia para fugir das balas dos franco-atiradores, para driblar as blitze de milícias armadas nas ruas pelos diferentes grupos em conflito?

A artista libanesa, Zeina Abirached, revela em seu livro “O jogo das andorinhas” o cotidiano da sua família e dela própria, em meio ao drama da guerra que mergulhou Beirute no caos durante mais de 40 anos.
Em uma prosa fluida Zeina desfia as memórias: “Meus avós paternos viviam a poucas ruas da nossa casa. As pessoas do bairro inventaram um sistema para circular entre os edifícios evitando os franco-atiradores. Para atravessar as poucas ruas que nos separavam, tínhamos que executar uma complexa e perigosa coreografia. Eu fui criada no andar térreo do apartamento em que nasceu meu pai. Seguindo o modelo da época, a nossa casa era composta de um grande salão retangular no centro, que se comunicava com as demais partes da casa. Com a falta de segurança dos cômodos expostos à rua, fomos pouco a pouco condenando a cozinha, o refeitório, os dormitórios, até ficarmos confinados ao hall de entrada da casa.”

Zeina revelou em uma entrevista que, em abril de 2006, ela assistiu uma reportagem filmada em Beirut 22 anos antes. Os jornalistas conversavam com os moradores de uma rua próxima à linha que dividia a cidade em duas partes (crtistã e muçulmana). “Uma mulher, bloqueada pelos bombardeios na entrada de sua casa disse uma frase que me marcou: ‘Eu diria que, pelo menos, aqui estamos provavelmente mais ou menos a salvo.’ Aquela mulher era minha avó.”

É impossível ler Zeina Abirached e não lembrar de outra artista que conquistou o ocidente: a iraniana Marjane Satrapi, autora da premiada série Persépolis. Tanto na narrativa, quanto no traço que se assemelha à xilogravura, em seu inconfundível contraste de branco e preto (herança da arte mulçumana dos séculos X e XI). Zeina vive em Paris desde 2006, onde freqüentou a Escola Nacional de Artes Decorativas e publicou os seus três primeiros romances: ‘’Rue Youssef Semaani”, “38” e “O jogo das andorinhas” - todos ainda inéditos no Brasil.

Intolerância religiosa

A guerra civil no Líbano surgiu com a disputa de poder entre os diferentes grupos religiosos que vivem no país: cristãos maronitas, sunitas (muçulmanos que acreditam que o chefe de estado deve ser eleito pelos represenanttes do islã), drusos, xiitas e cristãos ortodoxos. Em 1958, com os sucessivos conflitos na região e a emigração de 170 mil palestinos, o complicado equilíbrio foi rompido.

“A guerra civil explodiu em 1958, com insurreições muçulmanas contra o presidente maronita Camille Chamoun (pró-norte-americano), sob inspiração dos regimes nacionalistas pró-soviéticos da Síria e do Egito. Tropas norte-americanas desembarcam no país, provocando imediato protesto soviético. A crise é contornada, depois de negociações, com a substituição de Chamoun e a retirada norte-americana.

Após a saída das tropas dos Estados Unidos (EUA), é encontrada uma solução política, a pedido da ONU (Organização das Nações Unidas). Organiza-se um governo composto de líderes dos vários grupos religiosos do país. O frágil equilíbrio de poder, no entanto, rompe-se na década de 70. Uma nova derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e o massacre dos palestinos na Jordânia durante o Setembro Negro, em 1970, elevam para mais de 300 mil o número de refugiados palestinos no Líbano. “

Nessa época uma pessoa podia ser presa ou assassinada ao parar em uma blitz apenas por ter um documento que apontasse a “religião errada”. Enquanto isso, em casa, as pessoas se reuniam em volta de um rádio para acompanhar as notícias sobre os conflitos, como quem ouve notícias sobre o trânsito e engarrafamentos. O radialista anuncia: "Tiros de bazuca no perímetro da Vila Mansour. Bombardeios no setor próximo ao hipódromo, até agora temos 81 mortos e 221 feridos..."

O jogo das andorinhas
Uma frase pintada em um muro da cidade anuncia: "Morrer, partir e regressar é o jogo das andorinhas". De fato esta é a rotina de parte dos moradores da cidade: mudar-se constantemente. Assim como os pequenos pássaros que abandonam os ninhos onde nasceram e foram criados para voltar a eles anos depois...

Em uma entrevista à agência espanhola EFE, Zeina revela que começou a ler quadrinhos antes mesmo de aprender a ler. Seus pais tinham uma excelente biblioteca franco-belga e os quadrinhos eram parte importante da coleção. "Como nasci na guerra em 1981, minha infância está vinculada a ela e tudo acabava parecendo normal. Minha intenção ao escrever essa história era pintar a vida cotidiana e mostrar como, durante quinze anos, a gente conseguiu se acostumar com a tragédia." Apesar dos seguidos anos em guerra civil, ou talvez pelo impacto que o conflito gerou, Zeina não se interessava em contar a história oficial, nem seus aspectos políticos: "Eu queria contar a vida daquelas pessoas que viveram a guerra em suas próprias peles. Falar sobre as pequenas coisas e contar as piadas cotidianas", diz ela na entrevista. "O quadrinhos é para mim uma forma de encontrar respostas e dar respostas às gerações futuras e à minha própria".


Domínio narrativo

Zeina Abirached sorri quando comparam o seu trabalho ao de Marjane Satrapi. Ela se diz lisonjeada, mas afirma que não conhecia Satrapi quando começou a fazer seus quadrinhos. Seja como for, a comparação não é sem propósito. Ao contrário, assim como a artista iraniana, Zeina mostra um perfeito domínio sobre a narrativa gráfica. O que significa dizer que ela sabe explorar o silêncio, sabe criar uma ambiência para a história a partir de desenhos sem texto. Sem dúvida, Zeina consegue superar o receio original do leitor que imagina encontrar uma simples "cópia" de Persépolis (obra prima de Marjane Satrapi). As primeras paginas do livro já dão uma ideia do que o leitor vai encontrar. Ao longo de cinco páginas sem balões ou legendas, a autora nos leva a conhecer as ruas vazias de Beirute, suas barricadas, as paredes marcadas por tiros... Depois, em uma nova sequência de imagens, ela nos leva a refletir sobre o desafio de viver em uma cidade mutilada, onde ruas e quadras inteiras são "riscadas do mapa" pelo risco da atuação dos franco-atiradores.

O ponto alto do trabalho de Zeina é explorar o interior das casas e as relações de solidariedade que se constroi entre os vizinhos. "Durante a guerra, presentear um vizinho com frutas e verduras era uma atitude muito bonita. Mas, presentear frutas e verduras lavadas era um gesto de valor incalculável."

O Jogo das Andorinhas é uma daquelas obras fundamentais que precisam ser lidas. Esperamos que os leitores brasileiros não tenham de esperar tantos anos para ter acesso à obra.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Maria e Eu


O artista espanhol Miguel Gallardo é um bem-sucedido desenhista, com trabalhos publicados em importantes meios de comunicação espanhaois, como o jornal La Vanguadia e periódicos estrangeiros, como os americanos Herald Tribune e o The New York Times. Com diversos prêmios conquistados como ilustrador de livros infantis, Gallardo se lançou em 2007 em um projeto pessoal, corajoso e humano: uma história em quadrinhos sobre sua relação com a filha Maria.

Miguel Gallardo relembra: “Maria não nasceu de uma cegonha. Ela chegou de um planeta distante,como o Super-homem. Demorou 9 meses para chegar a casa e quando o fez, passava a maior parte do tempo dormindo. Maria se tornou nossa alegria. Mas em pouco tempo percebemos que algo se passava. Ela não parecia se dar conta das coisas que a rodeavam. Parecia não nos ouvir. Não correspondia aos nossos abraços. Era como se vivesse em um mundo próprio, sem conexão com o nosso. Em lugar de brincar com seus bonecos, os alinhava como se fosse um desfile...”  Maria vive hoje com a mãe nas Ilhas Canárias, tem 15 anos e é autista.

O trabalho de Gallardo é leve, suave tanto no texto quanto nas ilustrações.  Ele relembra uma de suas viagens de férias com Maria a um resort lotado de turistas alemães e ingleses. Ao longo do livro, o artista relata as dificuldades e prazeres da convivência com a filha. Antes de tudo, “Maria y Yo” é um contundente manifesto contra o preconceito e em defesa da vida. Gallardo aborda os olhares de crítica e estranheza que ele encontra quando passeia com a filha: “São caras que as pessoas põem quando, por exemplo, Maria começa a berrar no restaurante porque não a deixo comer depressa. Essas caras às vezes me deixam triste e outras vezes, me irritam.”

O livro revela as pequenas descobertas diárias de Maria e desvenda para o leitor um pouco de como se constrói a rotina de uma criança autista: “Na cabeça de Maria, tudo está classificado. Bem ordenado. Há uma caixa para cada coisa. Lhe angustiam as situações inesperadas”.

A psiquiatra infanto-juvenil Amaia Hervas Zúñiga, que assina o epílogo, diz que o maior atrativo de “Maria y Yo” é o fato do livro corrigir muitos preconceitos que rondam as crianças com autismo – uma síndrome que é cada vez mais diagnosticada. Maria não é distante nem fria; mas emotiva e afetuosa. Tudo o que Maria faz tem um significado para ela. Nós também podemos fazer María mais feliz – assim como todas as crianças como ela – simplesmente aceitando-as tal como são: únicas como todos os demais.”

Maria y Yo em vídeo



O projeto de Gallardo foi transformado em filme patrocinado por uma organização espanhola dedicada a defender os direitos das crianças com autismo. O filme, nas palavras do diretor Félix Fernandez Castro, é uma viagem de um pai e uma filha em busca de se comunicarem. Uma história real que nos ensina que uma pessoa com autismo é única, como qualquer outra pessoa.

Além do longa metragem,  a Fundação Orange produziu também um curta de animação que vem sendo massivamente difundido na Internet com o objetivo de difundir o tema entre a opinião pública. Os dois filmes pretendem chegar ao público em geral e também lançam uma mensagem otimista para os pais e familiares de pessoas com autismo. Muita gente vai pensar que é uma mensagem boa e politicamente correta . Não para mim. Para mim é verdade. São incontáveis as coisas que tenho aprendido com Maria.

Curta de animação

Uma pausa para a boa música

O artista Manolo Garcia, ex-integrante do grupo espanhol El Último de la Fila, faz uma fusão entre o rock e a música espanhola e árabe.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Grande Catástrofe - O Massacre dos Armênios


O dia mais terrível para um país é aquele onde, para se sentir unido, a maioria começa a acreditar que se faz necessário eliminar seus cidadãos mais indesejáveis (Antonia Arslan - escritora italiana de origem armena)

O massacre de homens, mulheres e crianças armênios é considerado pelos pesquisadores como o primeiro genocídio planejado da história. Entre 1915 e 1918, cerca de 1 milhão e 500 mil pessoas foram assassinadas, de todos os modos possíveis, pelo exército turco, como parte de uma estratégia deliberada de extermínio e incorporação de territórios. Um dos representantes do governo turco, Nazim Bei, diria: "Se não existissem os armênios, com uma só indicação do Comitê de União e Progresso poderíamos colocar a Turquia no caminho requerido. O Comitê decidiu liberar a pátria desta raça maldita e assumir ante a história otomana a responsabilidade que este fato implica. Resolver exterminar todos os armênios residentes na Turquia, sem deixar um só deles vivo; nesse sentido, foram outorgados amplos poderes ao governo."

O artista italiano Paolo Cossi realizou um trabalho de pesquisa sobre o tema e conta em 144 páginas a história do massacre. O trabalho do quadrinista não segue o rigor da abordagem jornalística de Joe Sacco, tampouco consegue alcançar o status dos romances de fundo histórico como: "Café Budapest", "Berlim Cidade de Pedras" ou "Berlim Cidade da Fumaça", "O Gato do Rabino", "O Grito do Povo", "A Guerra de Trincheiras", entre outros clássicos dos quadrinhos mundiais. Mas tem o mérito inegável de resgatar para as novas gerações uma das passagens mais sombrias da história. O leitor de "La Gran Catástrofe" não vai encontrar um traço requintado ou personagens densos e sofisticados. A estrutura narrativa do livro também é convencional e o traço, bastante ingênuo. Mas  Paolo Cossi consegue produzir uma obra no mínimo curiosa e didática... vale a pena conferir.

Para conhecer mais sobre o genocídio do povo armênio, assista a esta série de documentários produzidos pelo History Channel 




sábado, 6 de novembro de 2010

Quadrinhos censurados pela ditadura de Franco


Esta nota vem do site espanhol El Reservado...

Hasta ahora, se han publicado estudios sobre los efectos de la censura en el cine, la literatura, la radio o la prensa, pero éste es el primer libro que analiza en profundidad los efectos de la censura franquista contra las publicaciones infantiles y juveniles.

También los tebeos sufrieron, como el que más, los efectos de la censura. Las mayores coacciones llegaron a partir de los años cincuenta, cuando el ministerio de Información y Turismo elaboró una serie de normativas que editores, dibujantes y guionistas debían acatar. Dichas normativas recomendaban “no confundir hadas con ángeles” o prohibían rotundamente cuestionar la autoridad paterna.

Vicent Sanchis Llàcer (Valencía 1961) se ha dedicado durante tres décadas al periodismo. Ha dirigido las revistas El Temps y Setze, y los diarios El Observador y Avui. También ha trabajado en televisión como guionista y director de programas culturales. Actualmente colabora en algunos medios como articulista y es profesor de la facultad de Comunicación Blanquerna de la Universidad Ramon Llull.

Ha escrito Franco contra Flash Gordon (la censura franquista aplicada a les publicacions infantils i juvenils), con el cual ganó el premio Joan Fuster de ensayo. También ha comisariado numerosas exposiciones centradas en el mundo de los cómics.

Tardi e a mãe de todas as Guerras

 
A canção de Craonne (1917)
Adeus à vida, adeus ao amor
Adeus a todas as mulheres
Tudo terminou, para sempre
Desta guerra infame
 

Eis Craonne sobre a bandeja
Todos os grandes que fazem a festa
Se para eles a vida é rosa
Para nós não é a mesma coisa
o invés de se esconder todos os aproveitadores
Fariam melhor de subir às trincheiras
Para defender seus bens, pois nada temos
Nós, os pobres desgraçados
Todos os camaradas aqui enterrados
Para defender os bens dos senhores
Os que têm o dinheiro, a eles retornarão
Porque é por eles que morremos
 

Mas tudo acabou, pois os soldados rasos
Vão todos entrar em greve
Será a vossa vez, grandes senhores
De subir à bandeja (de Craonne)
Porque se querem fazer a guerra
Paguem-na com a vossa pele


Canção de Craonne


Canção de Craonne (pequena cidade ao norte da França) é um clássico da música francesa que há gerações vem sendo usada como símbolo dos movimentos anti-belicistas. A origem da música é praticamente desconhecida. Ela narra a luta entre soldados franceses e alemãs no Chemin des Dames (Caminho das Damas) nos primeiros dias da ofensiva de abril de 1917 e que resultaria no massacre das forças francesas. A canção não só aborda a inutilidade e brutalidade das guerras como expõe a verdade por trás dos uniformes, desfiles, medalhas e hinos. A força da música é tão grande que cantá-la em público nos campos de batalha da primeira guerra poderia levar um soldado ao paredão por insubordinação; e a sua reprodução pública permaneceu proibida até 1974. Agora os franceses e todos aqueles que defendem o fim de todas as guerras têm mais um vigoroso argumento em sua defesa. Uma obra de arte que já surgiu como um documento definitivo: “Puta Guerra!”, do artista f rancês Jacques Tardi.


Uma Guerra esquecida
A Primeira Guerra Mundial tornou-se uma passagem da história praticamente esquecida nos últimos 90 anos. A eclosão de novos e mais violentos conflitos praticamente arrancaram este acontecimento da memória mundial. Entretanto, apesar do esquecimento a que foi relegada, a Primeira Grande Guerra tem uma importância inquestionável para a história da humanidade. Tanto que alguns historiadores a chamam de: a mãe de todas as guerras. Nenhum outro conflito, até aquele momento, poderia ser comparado a ela, seja  em volume de perdas humanas, devastação, letalidade das armas ou número de países envolvidos.

Desde os primeiros dias, os movimentos da Guerra ficaram marcados por um equilíbrio de forças que levaram a uma disputada violenta por pequenos avanços no terreno. Era a Guerra de Trincheiras, onde os exércitos franceses, alemães, ingleses e de outros países ficavam anos inteiros enterrados no chão em valas cheias de lama, ratos e corpos despedaçados. As condições de vida dos soldados era tão terrível que centenas deles nunca mais voltaram a andar de forma ereta.


O Horror da Guerra em quadrinhos

O artista Jacques Tardi é um aficcionado pela Primeira Guerra. Quando criança, ele ouvia as histórias do avô, um ex-combatente francês, que o marcaram profundamente. Tardi já havia revisitado a guerra em outros trabalhos (ver comentário já publicado aqui no Nona Arte). Mas nada comparado ao nível de excelência alcançado por ele e o seu parceiro no roteiro, Jean Verney, em “Puta Guerra!”.

A edição espanhola, publicada pela Norma Editorial, a qual o blog Nona Arte teve acesso, traz em 101 páginas de quadrinhos e mais um bônus de 42 páginas, um resumo dos fatos mais importantes da Guerra entre 1914 e o armstício em 1919. Diferentemente do livro Guerra das Trincheiras, Puta Guerra não tem diálogos. Toda a história é narrada por um soldado francês que atravessa todos os anos do confllito e consegue sobreviver. O olhar atento desse narrador onisciente revela o absurdo das ordens de oficiais despreparados, os raros e surpreendentes encontros amistosos entre inimigos, a presença de soldados africanos destacados para defender seus senhores coloniais (franceses e ingleses), a rotina da vida nas imundas trincheiras, a tragédia de jovens mutilados, a ampliação do poder de fogo das armas, os pelotões de fuzilamento, os ataques aos civis, os mutilados... Diferentemente do que havia feito em "A Guerra de Trincheiras" ou em "O Grito do Povo" (seu único trabalho editado no Brasil), neste novo trabalho, Tardi não cria histórias ficcionais dentro da trama ou o faz de modo muito suscinto. Nesses outros projetos, o autor cria personagens que desfiam seus dramas pessoais tendo como contexto ou pano de fundo os fatos históricos (I Guerra ou a Comuna de Paris). Desta vez, foi como se Tardi quisesse dar um tom mais documental ao projeto. Ele parece mais preocupado em dar ao leitor uma visão ampliada dos horrores da guera do que em buscar uma "identificação" entre o leitor e as histórias humanas e "verdadeiras" dos seus personagens.

Tardi realiza amplas e minunciosas pesquisas sobre fotos e documentos da época. Para conceber seus desenhos, o autor também vasculha museus para ver pessoalmente objetos, fardamentos, armas e outros subsídios para seus desenhos. O processo de criação do quadrinista está registrado em um documentário que acompanha a versão espanhola.




O trabalho de Jacques Tardi é um apelo eloquente para que a 1ª Grande Guerra jamais seja esquecida. Sua narrativa é cruel e verdadeira. Nada de romances ou atos grandiloquentes que vemos nos filmes... Não há nada de belo em uma guerra, nada do que se vangloriar, parece nos dizer Tardi.

Esperamos que o bom momento que o mercado editorial de quadrinhos vive no Brasil seja uma oportunidade para que alguma das editoras nacionais se motivem a lançar Puta Guerra também por aqui.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Mestre dos Magos

Apesar do Jô Soares, vale conferir esta entrevista de Will Eisner em uma visita sua ao Brasil em 1999 (quando o programa ainda era transmitido pelo SBT). O mestre e criador do conceito de graphic novell fala sobre seu processo criativo e sua relação com Nova Iorque. 
 

Parte 1


Parte 2

Tintin chega ao cinema pelas mãos de Spielberg e Peter Jackson


A notícia é uma novidade mundial e promete causar reboliço entre os amantes dos quadrinhos: os diretores e produtores Steven Spielberg e Peter Jackson estão juntos na produção do filme The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn. O filme será uma animação em 3D. Foi a forma, segundo Peter Jackson, de manter-se o mais fiel possível à obra de Hergé. Agora é aguarda para conferir. A estreia mundial do filme ainda não tem data agendada...