"Essa Paris me abalou dos pés a cabeça"
Joan Miró
"Se você tiver a sorte de ter vivido em Paris... então onde quer que vá para o resto de sua vida, ela permanece com você, porque Paris é uma festa."
Ernest Hemingway
"A América é minha terra, mas Paris é minha casa."
Gertrude Stein
As primeiras três décadas do século XX foram intensas e decisivas para os rumos da cultura, da economia e da política mundiais. A um só tempo, e em diferentes partes do mundo, explodiam guerras, revoluções, novas descobertas na ciência, movimentos artísticos de profunda ruptura: Guerra Civil Espanhola, Revolução Russa, a Revolução Mexicana, 1º Guerra Mundial, o cubismo, o Jazz, o dadaísmo, a moda, a massificação do rádio e do cinema... Foi como se uma força colossal e represada irrompesse de uma única vez.
Foi nesse contexto que surgiram personagens fantásticos como: Picasso, Duchamp, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tristan Tzara, Hemingway, James Joyce, Ezra Pound, Villa Lobos, Chagall... Mas o epicentro desta revolução era Paris. Era lá que os maiores expoentes se encontravam.
Foi lá que Alice Prin, menina pobre nascida em Chatillon-sur-Seine transformou-se em Kiki de Montparnasse, musa inspiradora de alguns dos maiores artistas do século: Moise Kisling, Modigliane, Fujita Tsuguharu, Man Ray, entre outros.
A história de Kiki foi reproduzida em um romance gráfico que conquistou alguns dos maiores prêmios do mundo dos quadrinhos. Kiki de Montparnasse – de Catel Muller e Louis Bocquet – foi vencedor do Prix Essentiel FNAC em Angoulême, do Grand Prix RTL Comic Strip e do Millepages BD. O livro chega agora ao Brasil pela Editora Record.
Uma mulher seu tempo
Kiki foi o retrato de uma época. Liberal, intensa, amoral... Difícil de rotular, Kiki foi Cantora, atriz, modelo, prostituta, pintora, dançarina... Neste sentido, é difícil não lembrar de Tina Modotti (fotógrafa, atriz, revolucionária...) que viveu em diferentes países no mesmo período de Kiki (o romance gráfico sobre Tina Modotti já foi comentado neste blog).
Criada pela avó, longe da mãe e sem conhecer seu pai, Alice sempre teve um espírito irrequieto. Aos 12, Alice foi juntar-se à mãe em Paris. Trabalhou em uma fábrica de sapatos e em uma padaria, onde era explorada (na época, o trabalho infantil – em especial das crianças pobres – era algo natural). Aos 14, ela decide deixar a padaria, após uma briga com a proprietária, e faz o seu primeiro trabalho como modelo para um escultor: Ronchin. Por conta disso, Alice é expulsa de casa pela mãe e vai viver de favores de artistas e boêmios do bairro de Montparnasse (reduto dos artistas em Paris). A partir daí, Alice vai construindo a sua transformação para Kiki e entrando para a história como uma das personagens mais marcantes dos chamados “anos loucos”.
“Paris não era só um aglomerado de escritores exilados de terras mais provincianas. Era Coco Chanel, que mudou a cara da cidade com seus vestidos elegantes e confortáveis e seu perfume N.º5, até hoje uma mina de ouro. Chanel e o art déco da grande exposição de artes decorativas de 1925 são, para todo o sempre, a mais atraente imagem da década.
Paris virou vitrina e todo mundo queria entrar nela. Os negros americanos do le jazz hot chegaram na companhia de Josephine Baker, uma pantera desfilando outra pantera na coleira. Tinha Jean Cocteau e seu Le Boeuf sur le Toit. Mas o paraíso era dos americanos. Os milionários chegavam poderosos como Nancy Cunard, Sara e Gerald Murphy, Caresse e Harry Crosby, com Zelda e Scott Fitzgerald como testemunhas. Tudo era fácil e barato. Até 1929 e a queda da Bolsa. Aí todos foram embora, mas a história já estava feita. Nenhum outro século saberá repeti-la.” (do site anos loucos)
Kiki viveu o céu e o inferno. Dormiu com alguns dos homens e mulheres mais influentes do mundo das artes, ficou imortalizada em quadros e fotos, drogou-se, apanhou de prostitutas, foi agredida por seus amantes e morreu só no mesmo bairro que a imortalizou.
O traço é de Kiki é de Catherine Muler, conhecida como Cathy Muller ou simplesmente Catel. A artista estudou na Escola de Artes Plásticas de Estrasburgo e especializou-se em ilustrações para crianças. Catel oscila entre a caricatura de humor e o retrato. O desenho é envolvente e foi resultado de amplas pesquisas visuais sobre a Paris dos anos 20 a 50. Catel estudou sobre a arquitetura e a moda parisiense da época para compor a história. O texto de José-Louis Bocquet também foi resultado de intensas investigações. O autor, em entrevista a um blog Português, disse que para criar o roteiro de apenas quatro páginas do encontro entre dois personagens, ele teve de ler duas biografias porque queria que as poucas frases fossem “reais”.
A leitura de Kiki é uma oportunidade imperdível para conhecer mais sobre os anos loucos e a Paris dos anos 20 e 30. Confira abaixo algumas fotos e pinturas inspiradas em Kiki.
A leitura de Kiki é uma oportunidade imperdível para conhecer mais sobre os anos loucos e a Paris dos anos 20 e 30. Confira abaixo algumas fotos e pinturas inspiradas em Kiki.
Olá, Carlos!
ResponderExcluirGostei muito do seu post! Fiquei feliz por você ter citado meu blog. Meu objetivo com ele foi sempre chamar a atenção para essa época tão deslumbrante que foi os anos 20.
Abraço e obrigada.