sábado, 10 de abril de 2010
Limpeza de Sangue - as aventuras de Diego Alatriste
“Nos cárceres secretos de Toledo pude aprender, quase a custo de minha vida, que nada há de mais desprezível, nem perigoso, que um homem mau que toda noite se deita com a consciência tranquila. E ainda resulta pior quando atua como intérprete de uma só palavra, seja o Talmud, a Bíblia ou o Alcorão. Desconfie sempre de quem é leitor de um só livro.”
Mais uma vez o jovem Iñigo Balboa nos conduz pelas tortuosas ruas da Madri do século XVII, "com suas míseras luzes e suas ardentes sombras". O segundo livro da série de aventuras do capitão Diego Alatriste, escrita pelo espanhol Arturo Pérez Reverte, nos leva novamente a um cenário de traições, intrigas palacianas, corrupção e morte na Espanha de Felipe IV.
A Europa – e a Espanha, em especial – viviam ainda sob o regime de medo e intolerância da Inquisição. Os autos de fé atraíam milhares de pessoas, desde a aristocracia até a população dos menores vilarejos. Quando celebrados em Madri, os autos eram presenciados pelas majestades reais. Nestes “espetáculos”, judeus muçulmanos, homossexuais, bígamos, protestantes e acusados de bruxaria, eram mortos em fogueiras, para delírio do público.
Neste período, vigorou uma política que ficou conhecida como “Limpeza de Sangue”, quando foram impostos regulamentos que impediam a judeus conversos ao cristianismo (e, logo depois toda ordem de pessoas condenadas pela Inquisição) e a seus descendentes de ocupar postos e cargos em diversas instituições – seja de caráter religioso, militar, universitário e civil.
“A perseguição levou a uma interminável caça às bruxa, completa com denunciantes pagos, vizinhos bisbilhoteiros e uma racista “limpieza de sangre”. Judeus conversos eram apanhados por intrigas e vestígios de prática mosaica: recusa de porco, toalhas lavadas à sexta-feira, uma prece escutada à soslaia, freqüência irregular à igreja, uma palavra mal ponderada. A higiene em si era uma causa de suspeita e tomar banho era visto como uma prova de apostasia para marranos e muçulmanos. A frase “o acusado era conhecido por tomar banho” é uma frase comum nos registros da Inquisição. Sujidade herdada: as pessoas limpas não têm de se lavar. Em tudo isto, os espanhóis e portugueses rebaixaram-se. A intolerância pode prejudicar o perseguidor (ainda) mais do que a vítima. Deste modo, a Ibéria e na verdade a Europa Mediterrânica como um todo, perdeu o comboio da chamada revolução científica”.
É neste contexto que Arturo Pérez Reverte insere o seu protagonista, Diego Alatriste. Um homem que, segundo o narrador da história – Íñigo Balboa, “não era o homem mais honesto, nem o mais piedoso, mas era um homem valente”. Um personagem com um talento inigualável de se meter em confusões.
No primeiro volume da série, já comentado neste blog, o espadachim se vê envolvido em uma trama palaciana para assassinar o herdeiro do trono da Inglaterra e acaba atraindo para si a ira da Igreja e de setores da aristocracia.
No segundo livro, Diego Alatriste e seu protegido Iñigo, são arrastados para dentro da Inquisição Espanhola. O próprio narrador é preso, torturado e interrogado nas masmorras. A única coisa que pode salvá-lo da fogueira é a sua pouca idade: o pajem de Diego tem apenas 14 anos.
Sombra e escuridão
O romance gráfico baseado na história de Arturo Reverte, tem roteiro de Carlos Gimenez e desenhos de Joan Mundet.
Mundet usa bico de pena e nanquim para reproduzir as ruas, vestuário, móveis e demais elementos que nos remetem ao período do reinado de Felipe IV. Ele não tem o requinte de detalhes de outros artistas autores de romances gráficos com fundo histórico (como Jacques Tardi, Joe Sacco e Stéphane Heuet), mas consegue alcançar uma expressividade no olhar, e no uso de luz e sombra que confere uma força adicional à narrativa.
Alatriste no cinema
A história de Diego Alatriste foi adaptada para o cinema, com Viggo Mortensen no papel principal. Confira um trailler abaixo
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Assisti o filme ontem e fiquei curiosíssima para conhecer as obras. Será que que as encontro no Brasil? Muito obrigada pelo seu post.
ResponderExcluir