quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Magneto: o sobrevivente


Uma criança separada dos pais, em pleno campo de concentração de Auschwitz, contorce as grades de ferro da cadeia apenas com o poder da mente... Quando Bryan Singer, diretor do filme X-Men, criou a sua versão para a origem do personagem Magneto, deixou uma legião de fãs imaginando: como teria sido a história da humanidade, se seres com poderes extraordinários tivessem existido e confrontado a violência de regimes como as ditaduras de Hitler ou Stalin.

Aquela criança, que se tornaria o poderoso personagem Magneto, fez sua estreia nos quadrinhos em 1963 e de lá para cá, esteve presente ao longo de toda a saga dos X-Men. Agora Magneto ganha uma edição especial, que acaba de chegar ao Brasil pela editora Panini. A história foge completamente ao padrão das demais histórias da série. Em lugar de centrar sua atenção sobre as incríveis habilidades de Magneto, o livro prefere se dedicar integralmente ao relato do drama dos judeus durante o Holocausto. As poucas manifestações do poder de Magneto ao longo da história passam praticamente sem serem notadas. Nada de barras de ferro contorcidas ou de armas e soldados destruídos. Em lugar disso, apenas morte e sofrimento.
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O livro começa na adolescência de Magneto – ainda chamado de Max Eisenhardt – e narra o início da repressão contra os judeus na Alemanha, a fuga de milhares deles para a Polônia, a deportação para os campos e o genocídio. Magneto-Testamento é cuidadoso na reprodução de dados históricos. Ao longo de todo o livro, há notas informativas que ajudam a situar o leitor sobre os acontecimentos. Como o assassinato do adido alemão Ernest vom Rath em Paris por um adolescente judeu – Herschel Grynszpan – cuja família havia sido deportada da Alemanha para a Polônia. O crime daria início a uma onda de violência indiscriminada contra judeus na Alemanha e na Aústria. Cerca de 7.500 estabelecimentos comerciais pertencentes a judeus foram saqueados e depredados. A partir deste momento, a legislação anti-semita se tornaria cada vez mais dura.
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Os dois momentos mais marcantes da história, entretanto, seriam: a narrativa sobre a vida no Gueto de Varsóvia, onde todos os judeus deportados seriam obrigados a viver em uma área vigiada de 3,5 quilômetros de extensão; e – como não poderia deixar de ser – as histórias do Campo de Auschwitz.
O trabalho de pesquisa dos autores é extremamente minucioso. Desde o cuidado com a reprodução dos ambientes e roupas, até o rigor na reconstituição histórica da rotina dos prisioneiros judeus. O traço e a opção de cores, acentuam o tom sombrio da história. A qualidade estética do trabalho é excelente, o que é valorizado pela excelente edição brasileira.

Ultraje Final






Para além da ficção, entretanto, o livro revela aos leitores uma outra história fantástica: a trajetória da artista Dina Babbitt, sobrevivente de Auschwitz, que foi obrigada, durante sua permanência no Campo, a pintar dezenas de quadros de outros prisioneiros submetidos às sádicas experiências do Dr. Mengele (conhecido como o Anjo da Morte). Após o fim da guerra, Dina fez carreira como desenhista de animação (incluindo produções para os estúdios Warner Brothers, Disney e MGM. A história de Dina foi reproduzida, em quadrinhos, ao final da história de Magneto e faz parte de uma campanha mundial que diversos artistas estão movendo para que o Museu do Holocausto, em Auschwitz, devolva à família de Dina (falecida em 2009), os desenhos feitos por ela, que compõe seu acervo.
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O posfácio de Magneto-Testamento é assinado pelo Diretor Editorial da Marvel, Stan Lee, e foi lançado originalmente na edição americana quando Dina ainda era viva. Lee fazia uma veemente defesa para que os trabalhos criados pela artista durante o cativeiro lhes fossem (por direito) devolvidos. Leia o editorial de Lee abaixo e assista a um vídeo sobre a campanha em defesa de Dina.




Editorial de Stan Lee sobre Dina Babbitt


Karin In the depths of the hell called Auschwitz, Dina Gottliebova (Babbitt) painted a mural of Snow White on the children’s barracks. She used a cartoon character to bring a few moments of joy to the Jewish children whose lives were about to be extinguished by the Nazis. Cartoon characters are part of a universal language of imagination that touches children --and more than a few adults-- in every corner of the globe.

Dina knowingly risked her life by undertaking that defiant gesture of humanity. She knew the Germans would not tolerate such defiance. Trapped in a world of horror and evil, where heroes were all too few, Dina demonstrated that she was a true hero.

Dina’s mural was discovered but, miraculously, her life was spared because the Germans had use for her artistic talent. Snow White saved Dina’s life and, in turn, Dina tried to save others. Compelled by the infamous Dr. Josef Mengele to paint portraits of Gypsy prisoners, Dina dragged out the process for as long as possible, knowing that as long as the prisoners were being painted, they would remain alive.

In the years after her liberation from Auschwitz, Dina continued to use cartoon characters to bring joy to children’s lives. Today, every time someone watches a cartoon with Daffy Duck, Wily E. Coyote, or Cap’n Crunch, they may very well be enjoying images that Dina helped create.

As for the images Dina created in Auschwitz, seven of those portraits somehow survived, and are being held by the Auschwitz State Museum. Dina wants them back, and she has every right to get them back. Surely she should be allowed to keep this one small piece of the life that the Nazis ripped from her and her family.

Those of us who work in the world of comic books and cartoons bear a special obligation to raise our voices in support of Dina’s effort to regain the portraits she painted in Auschwitz. When others were in need, Dina stood up for them. Today, we must stand up for Dina.

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