sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Crônicas de um viajante

Países distantes, animais exóticos, culturas diferentes... Os relatos de viajantes sempre despertaram a atenção dos leitores. Heródoto, Ibn Battuta, Marco Pólo, Américo Vespúcio, Hans Staden e outros grandes aventureiros produziram crônicas de viagem que os tornaram conhecidos e eternizados.

Apostando nesta fórmula infalível o artista canadense Guy Delisle vem produzindo uma sequência de publicações que exploram esta ânsia dos leitores por crônicas de viagem. E sua matéria prima não poderia ser melhor. Os livros de Delisle lançados no Brasil pela Zarabatana Books, reproduzem as aventuras do autor por três dos países mais enigmáticos para os ocidentais: Coréia do Norte, China e Birmânia.

Além de quadrinista, Delisle trabalhou durante anos em projetos de animação percorrendo estúdios em vários países do mundo: Canadá, França, Alemanha, China e Coréia do Norte. Estas viagens forneceram o material que o autor precisava para suas histórias: a gastronomia exótica (em Shenzhen, Delisle provou sangue de serpente e carne de cachorro), o transporte público, a censura da mídia, a receptividade das pessoas, os costumes estranhos...

Delisle não tem a pretensão de fazer um relato com o rigor de um historiador ou a criticidade de um jornalista. Ele simplesmente coloca no papel tudo o que acontece no seu dia-dia. Nisto consiste muito do interesse que a sua obra desperta no público e, ao mesmo tempo, uma certa fragilidade e superficialidade que seu estilo de narrativa apresenta. O fato de empresas francesas e canadenses realizarem a produção de animações na China ou Coréia devido aos baixíssimos salários dos artistas, por exemplo, não recebe nenhuma menção de Guy. Mas, não é esse o principal problema do autor. O mais complicado é que Delisle produz um trabalho extremamente auto-referenciado que às vezes se torna repetitivo e enfadonho. Diferente do trabalho de Marjane Satrapi (ver texto já postado no blog), por exemplo, que apesar de auto-biográfico, consegue manter a densidade de uma grande obra literária. Falta a Guy este olhar mais crítico e atento. Menos preso às aparências e à superfície das coisas.

Apesar desta crítica, talvez mais severa que o necessário, os trabalhos de Guy são interessantes e valem a pena ser conferidos: “Pyongyang – uma viagem à Coréia do Norte”, “Crônicas Birmanesas” e “Shenzhen, uma viagem à China”.

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