
As cenas são extremamente fortes, mas em nenhum momento eróticas. Debbie se utiliza de todos os recursos da literatura em quadrinhos para fazer um corajoso grito de alerta contra a violência silenciosa que atinge milhares de crianças nos Estados Unidos e em outros países. As reflexões de Lily sobre a situação de violência vivida por ela são cruéis e revelam os conflitos vividos por muitas meninas e meninos expostos ao abuso. Em certo momento ela lembra: "Meu pai dizia que eu tinha a culpa pelo que ele me fazia. Disse que eu fazia com que ele perdesse a cabeça. Que ele sabia que eu gostava quando me fazia aquilo. Disse que sabia pelo modo como eu olhava para ele."
Muito pequena Lily pensa em suicídio e quase chegou a fazê-lo tomando remédios. À noite ela desejava ter câncer e morrer. A idéia de que pertenceria a seu pai para sempre aterrorizava: "Assim é minha vida. Um autêntico desperdício", diz.
O Traço de Debbie Drechsler lembra os desenhos de crianças: tortuosos, imprecisos, quase uma estética naïfe. Nada mais apropriado. A impressão que causa ao leitor é exatamente a de estar lendo o diário de Lily, compartilhando seus medos e angústias. O livro ainda não foi lançado no Brasil, mas um dos capítulos (Visitas Noturnas) pode ser conferido em uma antologia de novos autores americanos lançada pela Conrad Editora. "A Garota do Papai" é um trabalho imprescindível, mesmo que sua leitura possa ser dolorosa e desagradável.
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