sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Um furacão chamado Fats
A década de 1920 entrou para a história como a Era de Ouro do Jazz. E não foi à toa. O cenário da música americana, e de Nova Iorque em especial, fervia de novos talentos. O Harlem era o centro deste universo. Dali surgiam nomes como: Duke Ellington, Art Tatum, James P. Johnson, Willie "The Lion" Smith e as Harlem Big Bands.
Foi neste cenário de efervescência que surgiu Thomas “Fats” Waller. Exímio pianista, compositor, organista, comediante e ator, Fats era uma unanimidade. Louis Armstrong (considerado por muitos como o “pai” do Jazz) dizia que bastava mencionar o nome de Fats para ver um sorriso em todos os rostos. Suas performances eram inigualáveis. Basta ver os registros da época para se contagiar com seu sorriso ou com o jeito como arregalava os olhos no meio de uma frase.
Thomas Wright Waller nasceu em Nova Iorque em 1904. Ele era filho de um pastor batista e teve a sorte de estudar piano clássico e órgão na igreja. Ainda jovem recebeu aulas de James Johnson (na época, já conhecido no Harlem), que o ensinou o Jazz. Fats era um virtuose ao piano. Sua técnica era tão apurada que alguns críticos dizem que se ele não fosse músico de jazz e negro, poderia ter feito carreira como intérprete de música erudita nas melhores orquestras do mundo.
Fats fez uma carreira brilhante nos Estados Unidos e depois conquistou a Europa. Tornou-se um sucesso comercial e de crítica. Mas, em 1943, no auge da sua carreira, ele morreria de hipotermia em um vagão de trem quando viajava para Kansas City. O sistema de calefação da sua cabine quebrou e Fats morreu, aparentemente, dormindo.
A partir desta história o escritor, jornalista e crítico de jazz argentino Carlos Sampaio e o artista italiano Igort resolveram construir um comic book que é mais que uma simples biografia de Fats, mas uma crônica dos anos 20, 30 e 40. A partir da trajetória do músico eles recompõem a ascensão do nazismo, a quebra da bolsa de Nova Iorque, a Guerra Civil Espanhola, os expurgos de Stalin, o início da Segunda Grande Guerra... O álbum Fats Waller, inédito no Brasil, foi considerado um dos melhores trabalhos lançados na Europa em 2005.
O traço de Igort é minucioso e recria com detalhes a atmosfera da época, optando por enquadramentos abertos, permitindo ao leitor entrar na descrição dos ambientes e reconstruir visualmente a Europa e América daqueles anos intensos.
Diz a história que Louis Armstrong, ao saber da morte de Fats, chorou durante horas. Ler Fats Waller é sentir mais que a perda do músico, a dor pela perda da inocência... A tristeza por um mundo irremediavelmente perdido.
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