sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Em Busca do Tempo Perdido

Quando Stéphane Heuet, um desconhecido artista e publicitário francês, lançou a sua interpretação para quadrinhos de No Caminho de Swann (o primeiro dos sete livros que compõem a obra Em busca do Tempo Perdido), a reação foi imediata. O jornal Le Fígaro estampou a manchete "Proust Assassinado". O tradicional diário francês classificou a adaptação para quadrinhos da obra de Marcel Proust como "blasfêmica", "cruel" e "prodigiosamente vazia". O ataque dos críticos encabeçados pelo Le Fígaro já era esperado. Afinal, Em Busca do Tempo Perdido é considerada a maior obra literária francesa do século XX e acabou se tornando um patrimônio nacional como a Torre Eifell ou o Arco do Triunfo.

A defesa de Heuet, entretanto, foi imediata. Le Monde e Liberation saudaram a história em quadrinhos com entusiamo. E a resposta do público foi definitiva para encerrar a questão. No Caminho de Swann (em quadrinhos) vendeu mais de 180 mil exemplares somente na França e já foi traduzido para mais de 10 línguas.

Para compor sua adaptação o artista consumiu três anos e meio de pesquisas. Heuet chegou a visitar todos os locais citados no livro para conceber seus desenhos. Em uma entrevista concedida à Folha de S. Paulo, o artista contou que sua intenção ao iniciar a série era fazer um documentário visual do romance, mas acabou revelando o próprio universo de Proust.

Na composição de sua versão para quadrinhos Heuet usa trechos literais da obra de Proust. No entanto a seleção é extremamente sintética e objetiva. Em uma das passagens, quando o narrador conduz o leitor a uma viagem intimista à sua infância, ao provar de madeleines (espécie de bolinhos feitos com farinha de trigo, açúcar, ovos e raspas de limão), Heuet sintetiza volumosas páginas em apenas 20 frases. Mas o que o artistas economiza em palavras ao adaptar o texto original ele compensa na cuidadosa e detalhada reconstituição gráfica dos personagens e dos ambientes da belle-époque que povoam o romance autobiográfico de Proust.

O traço de Heuet é suave, delicado. Tanto esmero resulta em um trabalho que avança lentamente. A expectativa é de que ele só conclua a série de sete livros por volta de 2015.
A adaptação de Proust para quadrinhos é um trabalho fascinante. Para quem já conhece a obra do escritor francês, o romance em quadrinhos permite uma rara experiência estética. Para quem está tendo o primeiro contato com a obra, os livros de Heuet são uma excelente oportunidade de entrar no universo de Proust de uma forma sensorial. Proust certamente teria aprovado.

No Brasil a série está sendo publicada pela Editora Jorge Zahar. Os quatro primeiros títulos estão disponíveis nas prateleiras: No Caminho de Swann: Combray; À Sombra das Raparigas em Flor (parte I e II) e Um Amor de Swann (parte I). O mais recente volume - Um Amor de Swann (parte II) - foi lançado na França em outubro do ano passado mas ainda não tem previsão de lançamento por aqui.

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