sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Valsa com a Morte

Idosos, mulheres e crianças assassinados. Corpos decapitados pelas ruas. Mulheres violentadas na frente de suas famílias. 16 de setembro de 1982 entrou para a história como o dia do massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, localizados no subúrbio de Beirute. Até hoje não se sabe o número exato de mortos. Mas estima-se entre 700 e 3 mil o número de vítimas dos ataques. A dificuldade de precisar este número se deve ao fato de que a maioria dos corpos foram jogados em valas comuns ou queimados.

O massacre foi cometido por milícias cristãs que desejavam vingar a morte do presidente Bashir Gemayel – aliado de Israel assassinado um dia antes, em um atentado atribuído aos palestinos. A matança que se seguiu foi indiscriminada... E tudo ocorreu em territórios que estavam sob controle do Exército de Israel.

Esta história volta agora à mídia no momento em que a opinião pública mundial acompanha a crescente escalada de violência no conflito entre palestinos e israelenses. E sob um ponto de vista inusitado. Valsa com Bashir é um projeto nascido originalmente para animação e que foi adaptado para Quadrinhos. O filme foi escrito e dirigido por um artista israelense que discute o papel do Exército e o seu próprio na matança.

Filme Premiado

Valsa com Bashir (o filme) já coleciona uma série de importantes prêmios internacionais de cinema, como: Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro; o Broadcast; o British Independent Awards e o prêmio dos Críticos de Los Angeles, além de ter sido indicado ao Bafta, ao Satellite, ao César e ao European Film Awards, além do Oscar de melhor filme estrangeiro.

Ari Folman, cineasta que escreveu, produziu e dirigiu o documentário de animação reconstitui as suas memórias da época em que serviu como soldado no Exército de Israel, com apenas 19 anos. Ari sofreu uma perda de memória (fenômeno comum com soldados que vivem situações de estresse), e por mais de vinte anos apagou as lembranças da noite do massacre. O documentário e a História em quadrinhos, que chega agora ao Brasil, são uma forma de acertar as contas com o passado.



Valsa com Bashir impressiona pela coragem de apontar o dedo não apenas para as milícias cristãs, mas para o próprio exército de Israel que foi cúmplice do massacre ao tomar conhecimento das atrocidades que estavam sendo cometidas e silenciar. O próprio Ariel Sharon (ex-primeiro ministro de Israel e na época do massacre, ministro da defesa), foi comunicado sobre a matança de palestinos e nada fez para impedir. Ele foi denunciado posteriormente pela Corte Suprema de Israel que o responsabilizou pelo massacre, obrigado-o a renunciar. A história impressiona ainda mais pela honestidade que o autor tem ao desvendar também sua atuação nos dois dias que duraram o massacre.


Outra característica inovadora no livro e no documentário é a tecnica utilizada para criar os desenhos. Ari faz uma fusão de fotografia e desenho. Esta técnica é conhecida dos leitores brasileiros que tiveram a sorte de ler os dois primeiros volumes da série "O Fotógrafo" (lançada no Brasil pela Editora Conrad). A solução estética surpreende o leitor e confere uma força ainda maior à narrativa.

Valsa com Bashir é leitura obrigatória e se coloca ao lado de outros clássicos dos quadrinhos documentais, como: Maus, de Art Spielgman ou as reportagens em quadrinhos de Joe Sacco.

Serviço: "Valsa com Bashir" - L&PM Editores - Ari Folman e David Polonsky

Nenhum comentário:

Postar um comentário