Contar os bastidores de capítulos marcantes da história mundial a partir da perspectiva de expectadores anônimos tornou-se um filão editorial nos últimos anos na literatura e no universo dos Quadrinhos. Talvez tudo tenha começado com o premiado Maus, de Art Spielgman, que resgata as memórias do pai durante o cativeiro no campo de concentração de Auschwitz. Ou mesmo, quem sabe, com as histórias autobiográficas de Will Eisner (o homem que elevou os quadrinhos ao status de arte). De lá para cá são quase incontáveis as publicações que vêm seguindo esta linha, como: Persepolis, de Marjane Satrapi; Epiléptico (aliás, uma péssima tradução do original francês), de Pierre-François Beauchard ou as reportagens em quadrinhos de Joe Sacco.
Uma excelente dica do Nona Arte é a trilogia "A Guerra de Alan", do autor francês Emmanuel Guibert (conhecido no Brasil pelo seu fantástico trabalho em "O Fotógrafo" - história sobre a atuação dos médicos sem-fronteiras no Afeganistão nos anos 1980, em três volumes, lançada pela Conrad). A série ainda inédita no Brasil, conta a história da II Guerra Mundial a partir das memórias do ex-combatente americano Alan Ingram Cope, que na época do conflito tinha apenas 18 anos.
O primeiro volume da trilogia foi lançado na França, em 2000. O segundo volume foi lançado dois anos mais tarde. E o terceiro e último livro foi publicado apenas no ano passado. Em "A Guerra de Alan", Emmanuel Guibert faz suas primeiras experimentações da técnica que mais tarde seria largamente utilizada em "O Fotógrafo": a fusão de fotografias e desenhos. O resultado é um trabalho inovador e com uma excelente força narrativa.
Guibert conta a história de Alan desde sua convocação para o Exército Americano até sua experiência de vida na Alemanha ocupada. Ele rememora o treinamento militar, o companheirismo entre os colegas de quartel, o desembarque na França, o encontro com soldados alemães, o romance com uma camponesa no interior da França...
Alan não chegou a entrar propriamente em um combate direto, mas seu relato resgata para o leitor o sentimento de e ao mesmo tempo de profundo deslumbramento do jovem recém saído de Pasadena (Califórnia) e que descobre o mundo em meio a uma guerra. Até o ingresso dos Estados Unidos no conflito, Alan sequer sabia da existência Pearl Harbor.
Vale a pena conferir o trabalho que traz o leitor para um outro lado da Guerra, que normalmente não aparece nos filmes: o que os soldados faziam quando não estavam trocando tiros na linha de frente? Como eles se divertiam? Que contato eles tinham com as populações locais? Que notícias eles tinham sobre o que acontecia no restante no mundo?
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