sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Jornalismo e Quadrinhos - parte I

O jornalismo impresso está fazendo uma volta ao passado. Com os recursos técnicos disponíveis hoje, faz cada vez mais sentido um regresso às origens, à velha reportagem. Na Internet sobra informação e falta qualidade. Na era digital, desenhar a realidade, mais do que nunca voltou a fazer sentido. Joe Sacco foi um dos pioneiros deste novo jornalismo em forma de comic, um repórter que conta histórias através de desenhos.

Ele, no entanto, não é o único. Em todo o mundo estão acontecendo simultaneamente experiências que usam os quadrinhos como nova estrutura narrativa para o jornalismo. O jornalismo em quadrinhos é um gênero com novas fronteiras, que busca novos caminhos. A revista francesa XXI é um exemplo. De circulação trimestral, a revista dirigida pelo jornalista Patrick de Saint-Exupéry tem se destacado pelo uso de reportagens em quadrinhos desde sua primeira edição. Em outubro, o oitavo número da revista traz uma reportagem de Emmanuel Guibert (conhecido no Brasil pela trilogia “O Fotógrafo”). Nas edições anteriores já houve a presença de grandes nomes como: Jean Philippe Stassen, Jean Harambat, Maximilien Le Roy entre outros.

Esta é apenas uma das experiências. Nos Estados Unidos, o chargista do Herald Tribune, Patrick Chappatte, decidiu viajar a Gaza após os conflitos em janeiro deste ano. Em lugar de caricaturas, ele concebeu uma reportagem em quadrinhos com suas impressões sobre tudo o que viu e ouviu. Seu objetivo era: “Narrar os sofrimentos dos que não podem fazer nada: os civis”.

Enquanto isso, o Canadense Guy Delisle transforma em grandes livros-reportagem as suas viagens pela Ásia: Shenzhen, Pyongyang e Birmânia. Extraordinários retratos dos confins da Ásia.

No Festival de Angoulome (maior e mais importante festival de quadrinhos da França) a qualidade e o número de reportagens sobre o Afeganistão quase obrigava a organização do evento a criar uma categoria específica para os quadrinhos com histórias sobre o país. Os trabalhos de Nicolas Wild e Ted Rall são uma prova disso.

O veterano Joe Kubert, um dos maiores expoentes do comics nos Estados Unidos também incursionou pelo gênero. Em 1996 Kubert lançou o livro “Fax from Sarajevo”, onde conta a saga do amigo Ervin Rustemagic durante os ataques sérvios a Sarajevo (na Bósnia Herzegovina). Rustemagić e sua família perderam tudo o que tinham e passaram dois anos e meio vivendo em um prédio em ruínas, comunicando-se com amigos no exterior através de um fax, quando podiam. Com esse trabalho, Kubert conquistou o Eisner Award e o Harvey Award, as duas maiores premiações dos quadrinhos nos Estados Unidos.

Em 2008, as terríveis histórias que se seguiram ao enorme terremoto de 8 graus na escala Richter foram contadas de uma forma inédita e chocante. O artista chinês Coco Wang surpreendeu o mundo com uma série de histórias de vítimas da catástrofe. A surpresa foi ainda maior porque o mundo inteiro sabe a forma como a ditadura chinesa trata o controle de toda informação sobre o país.
Mais recentemente o site Archcomix, do americano Dan Archer, retratou os incidentes em Honduras por meio de quadrinhos. No mesmo site, em meio a outras histórias, chama a atenção uma reportagem sobre uma denúncia de trabalho escravo em fazendas que vendem produtos para a rede de Fast Food Burger King.

Na Inglaterra o jornal The Guardian publicou reportagens de Joe Sacco sobre o Iraque em 2005 , 2006 e 2007.

Este texto foi construído com informações do site espanhol Entrecomics e do jornal espanhol El País. Em breve vamos abordar as experiências de jornalismo e quadrinhos realizadas no Brasil.

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