sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Quadrinhos e Literatura - parte I

A relação entre literatura e quadrinhos não é novidade. Desde os primeiros anos da indústria dos quadrinhos, artistas e editoras têm realizado adaptações de obras literárias com maior ou menor sucesso. Mas, nas últimas décadas, trabalhos extremamente ousados e criativos têm conseguido expandir os limites destas adaptações para um novo patamar: o de novas obras de arte.

No início, era clara a idéia de tentar transpor os livros para um formato que pudesse ajudar a formar novos leitores de grandes clássicos. Mas as adaptações eram geralmente bastante grosseiras. Muitas vezes os resultados eram simples “resumos” ilustrados. Os roteiros eram mal construídos e prejudicavam a compreensão da narrativa original. Os textos soavam quase sempre artificiais. Os desenhos também não ajudavam muito. Seja pelo traço convencional e burocrático dos artistas, seja pela falta de domínio da linguagem narrativa da arte sequencial (que seria desenvolvida a partir de Contrato com Deus, de Will Eisner). Os livros mais pareciam adaptações didáticas para serem aplicadas nas escolas como leitura complementar (no pior sentido da expressão).

Ebal, a pioneira

No Brasil, as primeiras experiências de adaptações dos clássicos da literatura aconteceram com a editora Ebal (Editora Brasil-América, uma das primeiras e mais importantes editoras de quadrinhos no Brasil e que foi fundamental para difundir a nova mídia no país), que por quase três décadas manteve a série “Edição Maravilhosa” com histórias da literatura nacional e mundial. Foram adaptados romances como: Escrava Isaura, Mar Morto, Menino de Engenho, Frankenstein, O Conde de Montecristo, Os Três Mosqueteiros, entre outros.

Obviamente que ninguém discute a importância histórica da série e, menos ainda, da editora Ebal. Mas o fato é que as adaptações publicadas na “Edição Maravilhosa” foram lançadas em uma época em que os artistas ainda não haviam amadurecido o conceito de quadrinhos como obras de arte. As revistas eram apenas suporte para os textos literários, com poucas ou nenhuma liberdade para recriações estéticas e narrativas. Em outras palavras, os artistas eram prisioneiros dos livros que adaptavam.

Nos Estados Unidos, desde a década de 1940 estas adaptações literárias já vinham acontecendo. Um exemplo foi a série “Classics Illustrated” que também usou como matéria prima os clássicos americanos e europeus.

A revolução

Na década de 90 essa história começa a mudar. Nesta época começam a surgir as primeiras experiências de trabalhos que não são uma simples releitura dos clássicos, mas uma reinterpretação feita por novos artistas.

A série Clássicos Ilustrados, lançada no Brasil pela Editora Abril Jovem, representou um salto importante ao permitir a diferentes artistas a liberdade de criar e inovar na adaptação dos clássicos. A mesma série foi publicada nos Estados Unidos também com o nome “Classics Illustrated” , mas com uma concepção totalmente nova. Lá, a série completa foi composta de 27 títulos. Na edição brasileira foram traduzidos e publicados pela Editora Abril apenas 12 números (Moby Dick, Hamlet, O Conde de Monte Cristo, Grandes Esperanças, Tom Sawyer, A Ilha do Dr. Moreau, A Queda da Casa de Usher, O Morro dos Ventos Uivantes, A Letra Escarlate, A Ilha do Tesouro, Cyrano de Bergerac e O Presente de Natal)

Entre os artistas convidados estavam nomes como: Peter Kuper, Gary Gianni, Bill Sienkiewicz, Dean Motter entre outros grandes nomes dos quadrinhos mundiais.

Além de atrair a leitura de algumas das obras mais importantes da história da literatura, a série teve um outro mérito ainda mais importante: ajudou a formar uma verdadeira legião de leitores de quadrinhos no Brasil. Um fenômeno importante e que marcou a história de um grande número de pessoas que hoje são leitores cativos dos "Quadrinhos Adultos".

2 comentários:

  1. Sempre fui fã de quadrinhos e especialmente dos gibis da Ebal. Tudo começou em 1972, quando eu ainda era um garoto do interior, que gostava à beça de desenhar. Mas lá não tinha banca de jornais e revistas, então, a alternativa era ir à cidade mais próxima e adquirir. Certa vez, meu pai me deu uma revista bonita, bem impressa, capa plastificada, colorida, com excelentes ilustrações chamativas. Seu inerior era todo feito à bico-de-pena, também em cores, sobre papel de excelente qualidade para a época. Era a edição do Zorro em cores, formato americano, nºs 10, 13 e 14. Presentaço!! Há pouco tempo readiquiri essas revistas, em ótimo estado de conservação, pois, as antigas, de minha infância foram jogadas fora por parentes. Mas valeu a oportunidade e parabéns pelo blog.
    Obrigado,
    J G Fajardo

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