sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O ovo da serpente

O que levou a Alemanha ao Nazismo? Que forças agiram no país recém devastado pela Primeira Guerra e que propiciaram o surgimento de Hitler?

Diferentes artistas, entre escritores e cineastas, já se dedicaram a compreender este momento decisivo na história do Século XX. Romances como O Tambor, de Günter Grass e filmes como O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman, investigaram – cada um ao seu modo – o ambiente político e social na Alemanha durante a República de Weimar (entre 1919 e 1933).

O público tem agora a possibilidade de conhecer a história da ascensão do Nazismo sob uma ótica totalmente nova: da narrativa em quadrinhos. O artista americano Jason Lutes ainda é um ilustre desconhecido pelas editoras e pelo público brasileiro. Mas lá fora, tanto nos Estados Unidos como na Europa, seu trabalho já é considerado como um dos mais importantes já produzidos na história da Nona Arte: os dois primeiros volumes de uma trilogia – Berlin, cidade das pedras e Berlin cidade de fumaça.

A série, lançada em 2000 (Berlim, cidade das pedras), une ficção e realidade para contar de forma emocionante e vibrante a história da Alemanha entre 1926 e 1933.

Lutes traça um retrato humano e extremamente fiel de um país mergulhado na pobreza, na fome e na violência. A escolha do artista é extremamente importante porque joga luz sobre uma época desconhecida do grande público e que ficou ofuscada pelos horrores da Segunda Grande Guerra e do regime nazista.

Para inserir o leitor no universo turbulento da Alemanha entre guerras, o artista lança mão de três personagens que funcionam como fios condutores da história: o jornalista Kurt Severin, a estudante de artes Marthe Müller e Silvia Braun, que precisa fazer todo tipo de trabalho para comprar comida para os filhos. Por meio de Kurt conhecemos um pouco da Alemanha agitada por intensas movimentações políticas. Marthe Müller nos mostra a sofisticada Alemanha dos clubes de jazz e dos aristocratas. Já Sílvia resgata o drama dos alemães famintos que se vêem às voltas com um País que se desmancha no ar.

Pesquisa

Antes de compor a primeira página de Berlim, Cidade das Pedras, Lutes realizou uma ampla pesquisa que consumiu dois anos de trabalhos. Em entrevista o artista contou ter reunido um amplo universo de referências que iam de mapas da cidade de Berlim em 1928 até fotos e gravuras de utensílios de cozinha. Este extremo cuidado com a fidelidade na reprodução histórica do cenário pode ser percebida a cada página: nas roupas dos personagens, na arquitetura da cidade, nos automóveis etc.

Lutes, apesar de americano, é discípulo direto do melhor quadrinho europeu. Sua construção narrativa remonta à tradição de autores como o mestre francês Jacques Tardi. Pena que nós, leitores brasileiros tenhamos que esperar tanto tempo para ter acesso a um trabalho tão fundamental ou sermos forçados a importar os livros dos Estados Unidos ou da Europa. Vamos torcer para que alguma editora nacional tenha a iniciativa de publicar o trabalho no Brasil.

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